Existe liberdade para quem usa drogas?

Divulgado em 24/07/2014 - 07:49 por CAP PM Marcelo dos Santos Sançana

As drogas produzem artificialmente uma substância que também é naturalmente produzida pelo organismo, qual seja a serotonina (substância essa que traz ao homem sensação de bem estar). Todavia, a droga é tão perversa que esta produz uma taxa tão elevada que naturalmente o corpo humano não consegue mais equilibrar; assim, consolida-se a dependência pelo entorpecente, sendo que o viciado, de forma contínua, tem que repor as altas taxas de serotonina, pois sua memória cerebral já gravou aquela condição e seu organismo não consegue mais ficar sem a referida reposição para o complemento dessas altas taxas. Por isso, jamais arrisque: nunca experimente droga, ou deixe seu filho experimentá-la.

Além disso, um dos efeitos psicológicos da droga é provocar no viciado o hábito da mentira, isso principalmente quando este se sente ameaçado pela ausência de recursos financeiros para adquirir a droga ou por vergonha de que familiares e amigos descubram que ele é um viciado em entorpecentes.
Normalmente, a primeira coisa que vem na vida de um drogado é a droga; em segundo lugar são os amigos que com ele consomem droga; e só em terceiro lugar é que vem a família. O restante (comunidade, órgãos públicos, professores, etc) vêm em último plano ou sequer estão em algum plano. Por isso, como a droga vem em primeiro lugar, é que temos visto várias jovens, viciados, agredindo e até matando seus próprios pais. Assim, não se iluda: se o seu filho for viciado, grande será a chance dele estar primeiramente preocupado com a sua droga e com as suas amizades do que com você (pai/mãe/avô). O que se tem a fazer, nessas situações, é procurar a internação do adolescente em uma clínica de recuperação de drogados, visando retirá-lo do vício; com isso, se a droga e as más companhias deixarem a sua vida, a família voltará a ser o primeiro plano e não o terceiro lugar como normalmente é na vida de um viciado.

Do exposto, se o seu filho for viciado e estiver nas situações acima descritas, ele mentirá com freqüência e enganará você facilmente, não assumindo os seus atos e jogando sempre a culpa nos outros. Não raras vezes, os adolescentes praticam crimes, mas mentem descaradamente para os pais dizendo que são inocentes e que foi a polícia, o professor ou o conselho tutelar que produziu tal calúnia. Enganam seus pais dizendo que a polícia foi a verdadeira culpada e que está mentido, quando na verdade foram eles próprios que cometeram os delitos; isso justamente para não assumirem a culpa e não se indisporem com seus pais para continuar enganando-os como sempre fizeram. E o pior: tem pai/mãe/avô que continua acreditando (mesmo quando alertado por alguém de confiança), e até discutem com quem os alerta, até de forma inocente, que seu filho é “incapaz” de usar droga e roubar, e que isso somente acontece com os filhos dos outros.

Por isso, se alguém lhe alertar de algo envolvendo seu filho, em princípio agradeça, acredite e fiscalize, bem como procure, caso comprove o seu envolvimento, interná-lo e retirá-lo do mundo das drogas (e isso o quanto antes). Vale dizer: antes que ele perca o emprego (ou sequer arrume um), ou ainda antes que morra de overdose, seja preso, se prostitua ou vá parar num cemitério. Apenas para refletir: porque será que hoje o maior número de desempregados no Brasil está na faixa das pessoas que têm entre 16 e 24 anos? É sabido que um outro efeito da droga é o de gerar, em algumas pessoas, preguiça e falta de vontade para o trabalho. Bem, mas esta colocação é apenas para reflexão, pois é evidente que os fatores diretos e preponderantes são de ordem econômica e estrutural e que geram, segundo os economistas, a maioria dos desempregos nessa faixa etária, tendo como fatores principais a falta de experiência profissional, a imaturidade e um menor equilíbrio para determinada atividade. Agora, não se pode esquecer que o vício pelas drogas também pode contribuir para esse processo, ou seja, não conseguir emprego ou até perder aquele que já se tem, até porque, não raras vezes, muitos já perderam seus empregos por furtarem ou roubarem os próprios patrões para sustentar o vício que tinham pelas drogas.

O drogado, também, perde a sua liberdade. Em razão do vício, a droga vem antes de tudo, até da própria família. As drogas e os amigos vêm antes; a família e a sociedade (nessa seqüência) só vêm depois das drogas e das “amizades”. Por perder a liberdade e ter que se submeter à pessoa que lhe fornece drogas, o viciado é valente com todos – família, professores, polícia, etc – mas é um coitado, sem liberdade e digno de dó, em relação àquele que lhe fornece a droga. Que liberdade é essa? A droga é mais importante do que qualquer outra coisa, e, se preciso for, o viciado rouba, furta e algumas vezes até mata os seus próprios familiares.

Texto: CAP PM Marcelo dos Santos Sançana - Comandante da Polícia Militar de Porto Ferreira