Porto Ferreira Ontem - A Semana Santa

Divulgado em 18/04/2019 - 17:30 por portoferreirahoje

Na Porto Ferreira de antigamente, a Semana Santa, de acordo com os costumes, era respeitada por todos. Em algumas casas, famílias evitavam olhar para os espelhos e os cobriam com panos; muitas mulheres mal penteavam os cabelos. As pessoas não tomavam leite, não comiam carne ou ovos, não varriam a casa, não lavavam as roupas. O jejum era adotado por muitos.Não se tocava música em grafonolas ou gramofones.

A sexta-feira era o dia dedicado aos ofícios religiosos do único templo, a Igreja de São Sebastião, com a frente voltada para a rua do mesmo nome. O silêncio na pequenina cidade era mantido por todos e censurada a algazarra por qualquer pai de família. Não se podia dar risadas ou sair para o footing, e nenhum comércio mantinha as portas abertas, exceto casos de urgência em farmácias, que atendiam de modo particular com as portas fechadas. De fato, um rito entendido e aceito pelos cidadãos.

A banda de música acompanhava a procissão, sempre em último lugar, tocando a marcha fúnebre. Existia um momento, neste percurso, em que acontecia o canto da Verônica, interpretado por uma jovem que mantinha sob as mãos um véu com a face de Jesus. Enquanto desenrolava o tecido, lentamente, entoava uma melodia sacra. Este ato interrompia a procissão e as pessoas fixavam os olhos para a jovem que cantava a cappella(sem acompanhamento). Muitas mulheres usavam o véu e as vestimentas do público predominavam nas cores pretas ou brancas.Todas as pessoas empunhavam velas nas mãos.

Apenas no dia seguinte, o sábado de aleluia, os sinos dobravam, representando a felicidade ante a Ressurreição do Senhor. Justamente nas primeiras horas desse dia, os serviços dos açougueiros eram retomados. Às dez horas, o povo tomava água e lavava os olhos e o rosto.

Um dos costumes daquele tempo ido, que continuou até meados da década 1960, diminuindo ao longo dos anos, era a malhação do Judas, sempre aos sábados, muito estimulada pelos mais novos.

Não possuímos registros fotográficos do passado dessas procissões, que sempre foram noturnas, e em razão da precariedade dos recursos da época. Para simbolizar o período, apresentamos uma procissão diurna na Rua São Sebastião, em frente do antigo cinema São Sebastião, da década 1950, com um acentuado número de crianças, o que não era comum nas procissões da Sexta-feira Santa.

Por Miguel Bragioni - Pesquisador da história de Porto Ferreira

Foto: acervo do Museu Histórico e Pedagógico “Prof. Flávio da Silva Oliveira”