Ferreirense que fez uso de cloroquina por recomendação médica apresentou complicações

Divulgado em 21/05/2020 - 08:40 por portoferreirahoje ***

Mário Salviato, 43, é produtor rural e não possui comorbidades como pressão alta, diabetes e obesidade. Há alguns dias atrás, começou a apresentar tosse seca que se intensificou e piorou na terça-feira, 12, fazendo com que ele procurasse um médico pneumologista e marcasse uma consulta particular na manhã do dia seguinte, quarta-feira.

O médico que atende no município solicitou exames para analisar o caso. Devido a classificação de urgência feita pelo pneumologista os exames de sangue, tomografia, eletrocardiograma e raio-X foram realizados no mesmo dia. Também foi solicitado pelo médico um exame para testar a presença de Covid-19 no organismo de Mário. A testagem rápida deu negativo para o vírus, o eletrocardiograma não detectou nenhuma anormalidade e o raio-X detectou pequenas manchas no pulmão.

Diante do quadro clínico e após examinar o paciente, o médico considerou que apesar do resultado do exame apontar que Mário não possuísse a doença, seria possível que ele já tivesse tido contato com o vírus e que poderia desenvolver em breve uma forma mais agressiva da enfermidade. “Fiz o teste rápido de covid, deu negativo e levei para o médico. Chegando lá ele olhou os exames e disse que eu tinha grandes chances de estar com o vírus, mesmo com o teste negativo. Foi aí que ele receitou a cloroquina” conta ele.

O medicamento usado no tratamento e profilaxia da malária, teve seu uso autorizado pelo Ministério da Saúde para o tratamento de Covid-19, mesmo sem eficácia comprovada cientificamente. Atualmente o protocolo adotado pelo Ministério prevê que apenas pacientes graves e críticos façam uso do remédio, que possui uma série de efeitos colaterais, e recomenda a assinatura de um termo de responsabilidade, em que o paciente se diz ciente dos riscos que o medicamento pode oferecer. Nenhum documento do tipo, entretanto, foi assinado por Mário Salviato.

No dia seguinte ao início do tratamento com o fármaco, na quinta-feira, Mário começou a sentir falta de ar acompanhada de crises de tosse. Foi então que procurou o Pronto-Socorro do Hospital Dona Balbina. Lá realizou novamente exames como o eletrocardiograma. Desta vez, ao contrário do exame anterior, foi constatada uma arritmia no coração de Salviato. De acordo com os profissionais que o atenderam no Hospital esta arritmia foi provocada pelo uso da cloroquina. Segundo a Sociedade Brasileira de Infectologia, além dos efeitos relacionados ao sistema cardiovascular, outros efeitos adversos são retinopatias e hipoglicemia grave. “A médica que me atendeu foi muito clara, ‘se você continuar esse tratamento na sua casa, você morre pelos medicamentos’. Foi aí que vim para o isolamento do hospital” esclarece ele.

No Hospital também foi realizado um outro teste para Covid-19, este que detecta se o paciente tem ou já teve o virús em seu organismo, e mais uma vez o resultado deu negativo. Mário Salviato não tem e não teve Covid-19 e mesmo assim foi receitado a tomar um medicamento de eficácia ainda duvidosa em relação ao vírus, que lhe causou complicações que poderiam ser mais graves.

Até que o segundo resultado saísse, Mário permaneceu em isolamento no Hospital e teve alta na manhã de sábado, dia 16. Ele destaca, por fim, que foi “muito bem atendido por médicos e enfermeiras do Hospital” e diz que o uso do medicamento “é muito sério, a pessoa ou o profissional tem que pensar muito bem antes de entrar com um tratamento desse”.

 

*** Por Felipe Lamellas - (Graduando em Jornalismo pela Unesp)

Fontes: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-52686122 - https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude