Porto Ferreira Ontem – As festas juninas: um ensaio

Divulgado em 20/06/2019 - 15:08 por portoferreirahoje

O mês de junho chega e com ele, no tempo frio e seco da estação, o coração palpita acelerado como reflexo da imagem mental que remete à infância e à adolescência. Um turbilhão de pensamentos multicoloridos surgem no contexto, através de balões, bandeirinhas e vestidos caipirinhas, além dos alimentos que provocam água na boca. O fim comercial, hoje explorado, tem origem em uma manifestação genuína do povo.

Raras foram as abordagens textuais sobre as festas juninas promovidas em Porto Ferreira, porém, para evitar que o assunto permaneça em branco, atrevi-me a esboçar algumas linhas, fundamentado em notícias, fotos e anotações da época.

No início do século XX, nas duas primeiras décadas, durante o mês de junho, havia concorrência popular em duas festas juninas realizadas pelos sitiantes João Mutinelli e João Leodobino da Costa, mais tarde pelo neto deste, João Salgueiro Filho. Suas propriedades eram bem próximas da zona urbana e por este motivo frequentada por inúmeros cidadãos.

Com o predomínio da religião católica, as rezas e os terços inauguravam os festejos. Depois do respeito e da fé dedicadas aos Santos Antônio, João e Pedro, os violeiros iniciavam a cantoria que se estendia até o amanhecer.

O levantamento do mastro, contendo as efígies dos três santos no topo, era sucedido pela disputa de apanhar o soquete e dar batidas na terra, em volta do pé do próprio mastro, mentalizando um pedido a ser atendido.

Para a povo da pequenina cidade, que contava com poucas comemorações durante o ano, os comestíveis gratuitos e todo o romantismo das decorações feitas com carinho, satisfaziam e davam a plenitude de que com tão pouco recurso e simplicidade – aos olhos da atual geração -, tudo parecia ser um sonho.

Os doces de leite e de batatas doces, assadas na brasa, seguiam aos biscoitos de polvilho, aos pés-de-moleque e à canjica. Para beber, o quentão, os licores, o leite quente e o anisete, que há muito sumiu dessas festas. Os balões decoravam o céu enquanto a grande fogueira esquentava o espaço. As brincadeiras com bombinhas, busca-pés e o estrugir de rojões também ocorriam. Para a alegria dos jovens e dos casais, as quadrilhas não podiam faltar. Sanfoneiros e violeiros eram requisitos para abrilhantar essas comemorações. Uma tradição revelada pelo professor João Teixeira era o ato “das mocinhas casadoiras que viam, à meia-noite, na água de uma bacia, o rosto ou a primeira letra do nome do seu futuro marido”. 

Não se pode desconsiderar a iniciativa dos sitiantes e fazendeiros locais que realizavam outras festas juninas, para a felicidade dos colonos, concentrados em elevado número na zona rural. Manoel Reginaldo, em seu sítio na beira do Rio Bonito, promovia festa em louvor a São João. Não faltava comida, alegria e muita música, principalmente, a catira.

Por curioso que possa parecer, em publicação opinativa no “O FERREIRENSE”, de junho de 1950, Walter Ricardo Nothling chamou a atenção dos munícipes para que fossem mantidas as comemorações a cada uma das datas em honraria aos santos juninos.

Nos anos seguintes da mesma década essas festas passaram a ter o nome de “baile caipira” ou “baile à caipira”, sendo realizadas no Porto Ferreira Futebol Clube (no clubinho), no salão da sede da Corporação Musical Santa Cecília, no Grêmio Ferroviário Ferreirense e também ocorriam em escolas municipais.

Por essa época e ao longo da década 1960, o sucesso dessas comemorações estava a cargo de Francisco Peripato e sua família, na chácara localizada na Vila Sybilla, e com grande participação de jovens, os acontecimentos se davam na Escola Artesanal de Porto Ferreira – Ginásio Industrial.

Por Miguel Bragioni

Pesquisador da história de Porto Ferreira

                                                                                                

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Foto (1): Festa caipira no “parquinho” do Grêmio Ferroviário Ferreirense, em 1952, pertencente ao acervo do Museu Histórico e Pedagógico “Prof. Flávio da Silva Oliveira”. Identificados: 1- ....... Amaral; 2- Maria José (Zezé) Gentil; 4- Catarina Ap. Moreira da Silva; 8- Nilson (Piolho); 9- Jair Zanetti; 11- Orminda (Nininha) Francisco de Oliveira; 13- Selma dos Santos; 14- Amauri Carrera; 15- Clóvis Moreschi (Lemão); 16- Janete Bragante; 17- Cláudio Mariano; 18- Hilda Palhares Pinto; 20- ..... Arnoni; 21- Sueli Senise; 23- Luís Carlos Gomes (Ganso); 24- Lourdes Carlos; 25- Lourdinha......; 26- Antonio Palhares Pinto (Toninho); 27- Sinésio Antonini; 28- Virlanda Ayres; 31- Lourdinha Zinni; 32- José Pedro Machado; 34- Nivaldo Antonini; 35- Neuza Gonçalves; 36- Leni Aparecida Cunha.



Foto (2): na saída da capela da chácara da família Peripato, Francisco, o patriarca, leva consigo o quadro de Santo Antonio para ser adaptado no mastro. Década de 1960. Acervo do Museu Histórico e Pedagógico “Prof. Flávio da Silva Oliveira”.

Informe abaixo, caro leitor, se identificou alguma pessoa das fotos de hoje, a fim de complementar os registros.