Porto Ferreira Ontem – A Revolução Constitucionalista em Porto Ferreira

Divulgado em 11/07/2019 - 18:10 por portoferreirahoje

Getúlio Vargas assumiu a presidênciaem 1930, através de uma revolução que iniciou em outubro daquele ano. Sua assunção ao poder decorreu de um golpe de Estado, sendo deposto o presidente Washington Luís, a 24 de outubro.

Não demorou dois anos para estourar na cidade de São Paulo a conhecida Revolução Constitucionalista, exatamente a 9 de julho de 1932.

O movimento ganhou corpo nos municípios paulistas e quatro dias depois uma manifestação popular aconteceu em Porto Ferreira, com o furor da Corporação Musical “Santa Cecília”, organizada pelos cidadãos Nelson Pereira Lopes, Olímpio Félix de Araújo Cintra, Procópio de Araújo Carvalho, José da Silva Júnior, Dr. Carlindo Valeriani, Alonso Brasiliense, José Américo da Silva, Syrio Ignatios, Manoel Marques Júnior, Antonio Teixeira, José de Almeida, Gino Bolognesi, Vitório Colli e Constantino João.

Uma passeata pelas ruas principais, incitando os munícipes, com a participação de pessoas vindas de Pirassununga, seguiu destino até a Casa Paroquial para apreciaçãodo discurso proferido pelo padre João Batista Lisboa.

Alguns dias depois, a 18 de julho, nova concentração de cidadãos aconteceu na estação de trens para acompanhar o embarque de 18 ferreirenses, como reservistas e voluntários. O episódio recebeu incentivo de populares e o pároco colocou uma medalha do Anjo da Guarda no peito de cada soldado.

Para fortalecer a mobilização, foi criada a Comissão Municipal de Alistamento, constituída por Gino Bolognesi, João da Rocha Cupido, Alonso Brasiliense e Manoel Claro Betting, em atividade na prefeitura municipal. Tal comissão recebeu inscrições dos voluntários Nelson Pereira Lopes, Antônio Maximiano, João Jorge, Durval Arnoni, Manoel Marques Júnior, Joaquim dos Santos, Manoel Araújo, Antônio Rodrigues, José da Silva Júnior, Bernardino Cunha Leme, José Bernardo França, Adílio Barroso, José Antonio de Alencar, Maurílio Costa, Floriano de Matos, Abrão João Ferreira, Casemiro de Moraes Dias Júnior, João Malaman, David Arnoni, Alberto Salzano, Alzemiro Teixeira, Syrio Ignatios, João Gonçalves e Sebastião Aleixo de Almeida.

Mais alguns ferreirenses se uniram aos voluntários: Pedro Riolino, José Ribas do Amaral, Orestes da Silva Oliveira, Salvador Tomaiolo, Antonio (Tonico) Rodrigues, Erlindo Salzano e Álvaro de Góes Valeriani, médicos-militares, além de soldados do 2º Regimento de Cavalaria Divisória, com sede em Pirassununga, Ubaldo Fagiane, cabo, Hildebrande Américo da Silva, Olímpio Galvão e Virgílio (Lito) Melchioretto, sargento na unidade do Exército do Forte Itaipu. Alguns voluntários não chegaram às linhas de combate.

Porto Ferreira se fortaleceu na Revolução Constitucionalista. Houve uma determinação do Quartel General das Forças Revolucionárias para a construção de um campo de aviação. Fazendeiros diminuíram as atividades rurais e enviaram, diariamente, de 180 a 260 homens para o trabalho que contava com a supervisão de Bernardino Lapa. O campo, em terras de Joaquim Maria, possuiu a extensão de 350 por 225 metros e ficou pronto em poucos dias. A comissão ainda buscava angariar fundos e foi batizada: “Ouro para a Vitória”, tendo como presidente o novo padre da cidade, Moysés Miranda.

Donativos diversos, confecções de uniformes aos combatentes, por senhoras e senhoritas voluntárias, eram feitas. Maços de cigarros e caixas de fósforos encaminhadas à Casa do Soldado, em Pirassununga, a pedido. Racionamento de gasolina e levantamento da produção agrícola local foram organizados.

Segundo o professor Flávio da Silva Oliveira, “o prefeito Dr. Carlindo Valeriani requisitou todas as carabinas Winchester 44 do município e instituiu o “pão de guerra”, que deveria ser feito com farinha de trigo misturada ao fubá, podendo ser substituído por farinha de mandioca, de arroz, fécula de batata ou similares.”

O clima de patriotismo tomou conta do município. Os acompanhamentos das transmissões de rádios e das informações que chegavam traziam euforia. Contudo, tais notícias, de certo modo distorcidas, não demonstravam que os paulistas estavam em desvantagem, o que foi, aos poucos, observada pelos cidadãos, que começaram a temer saques e depredações. Muitos abandonaram os sítios, fazendas, casas e se mudaram, acomodando-se precariamente por receio das tropas legalistas, que possuíam fama de impiedosos.

Algumas tropas paulistas de revoltas chegaram a Porto Ferreira e se instalaram em algumas casas abandonadas. Tais grupos não possuíam a disciplina militar, por serem constituídos por civis, e acabaram gerando aborrecimentos locais, havendo, inclusive, a cogitação de dinamitar a ponte “metálica”, a fim de evitar a travessia das tropas legalistas.

Em 1º de outubro de 1932, um boletim chegou a cidade ordenando a retirada desses soldados e com tom de calmaria para a população local, apelando a esta para que o cavalheirismo e a humanidade reinassem no comportamento das tropas legalistas, caso avançassem, o que se consumou em pouco tempo.

Assim, o prédio do Cine Theatro São Sebastião foi ocupado durante algum tempo por soldados mineiros, totalmente ordeiros, respeitosos e que caíram na confiança dos moradores.

O único jornal de Porto Ferreira, “O Ferreirense”, tratou de produzir matérias contendoos episódios que envolveram os cidadãos durante o período do mote. Essa cobertura jornalística abrange desde as mínimas doações até os avanços significativos dos constitucionalistas. Em momento oportuno trarei as especificidades a fim de demonstrar o quão significativa foi essa mobilização para os moradores.

Quando frequentei a Fazenda Santa Mariana para fazer anotações históricas, soube, por intermédio dos proprietários, que foram encontradas espingardas e armas no porão da casa do administrador da propriedade. A argumentação de antigos colonos confirmou que o local foi um esconderijo improvisado para a defesa da fazenda, em caso de invasão por tropas hostis durante a Revolução Constitucionalista.

Por Miguel Bragioni - Pesquisador da história de Porto Ferreira

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Foto: Na Avenida 24 de Outubro, tropas paulistas em toque de retirada, outubro de 1932.