Porto Ferreira “história em instantes”: da Industria Oleira a Cerâmica Artística - parte 1

Divulgado em 31/07/2022 - 08:00 por Renan Arnoni*

Nós, ferreirenses, orgulhamo-nos de falar de Porto Ferreira como sendo a “Capital da Cerâmica” do Brasil. Mas, muitos desconhecem o processo histórico que nos elevou a este patamar, pois, em 16 de outubro de 2017 foi assegurado o título ao município de “A Capital Nacional da Cerâmica Artística e de Decoração”, pela Lei 13.492/2017, publicada no Diário Oficial da União em 17/10/2017. Assim, cabe-nos conhecer estes fatos históricos para compreender o processo que levou ao reconhecimento nacional do município.

A economia cafeeira, pautada por relações capitalistas de produção, proporcionou os “pré-requisitos fundamentais ao surgimento do capital industrial e da grande indústria”. “Entre 1888 e 1900, entraram 1.400.000 imigrantes no país, dos quais 890.000 se fixaram em São Paulo e foram construídos milhares de quilômetros de trilhos de trem para escoarem a produção”1 .

Com o aumento da população no Estado de São Paulo, criou-se grande demanda por produtos manufaturados e por materiais para a construção de moradias. As empresas localizavam-se próximas à fonte de matéria-prima2.

Em 1901, Bandeira tentou fazer um levantamento do número de empresas em todo o Estado de São Paulo. Constatou a existência de 170 fábricas, das quais 50 possuíam mais de 100 funcionários; existiam 17 fiações e 7 fundições, as demais, dividiam-se entre olarias, fábricas de cimento, açúcar, farinha de trigo, drogas, objetos de vidro, sapatos, roupas feitas e papel3.

A indústria cerâmica, formada por olarias, fábricas de louças de barro e de louça branca, foi uma das primeiras a se desenvolver no Estado de São Paulo, no final do século XIX e início do século XX. Segundo Bellingieri (2005), as olarias constituem-se o marco inicial do setor, “[…] presentes em quase todas as cidades e núcleos urbanos de São Paulo, desde as últimas décadas do século XIX”4. Tratavam-se de unidades produtoras de telhas e tijolos, enquanto as cerâmicas fabricavam produtos mais “sofisticados”, como manilhas, tubos, potes, talhas, entre outros.

Como referência para a compreensão estrutural de Porto Ferreira nas primeiras décadas do século XX, vale a pena citar algumas informações retiradas de um artigo sobre o município em questão, publicado no “Almanaque Lammert”, em 1905. Porto Ferreira contava com 11.500 habitantes e cultivava, principalmente, as culturas de café e cana-de-açúcar. Existiam 1 Grêmio Dramático e Literário, 1 cadeia, 2 farmácias, 1 tipografia, 2 hotéis, 3 sapateiros, 3 alfaiates, 4 cerâmicas de tijolos, 3 cervejarias, 2 ferreiros, 1 funileiro, 2 barbeiros, 1 filarmônica, 1 fotógrafo, 2 lojas de marcenaria, 2 padarias, 6 lojas de fazendas e 15 armazéns de secos e molhados. Os termos cerâmicas e olarias se confundem nos textos históricos, entretanto é possível constatar a presença de cerâmicas já em 1905 em Porto Ferreira5.

Bibliografia:


  1. MELLO, J. M. C. O capitalismo tardio: contribuição à revisão crítica da formação e do desenvolvimento da economia brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1986, p109.

  2. BELLINGIERI, J. C. As origens da indústria cerâmica em São Paulo. Revista Cerâmica Industrial. São Paulo. 2005, volume 10 edição 3, p. 19-20.

  3. DEAN, W. A industrialização de São Paulo. São Paulo: DIFEL, 1971, p.16.

  4. BELLINGIERI, Op. Cit., p. 19-20.

  5. TEIXEIRA, J. Porto Ferreira: sua história, seus costumes, suas tradições e sua gente… Porto Ferreira: Gráfica Máximo Fenili, 2009, p. 208-209

* Renan Arnoni: Bacharel e Licenciado em História- UNESP, Pós-Graduado em "Gestão Cultural - cultura, desenvolvimento e mercado”  e  Analista Comportamental. Coautor do livro “Aspectos Históricos de Porto Ferreira” – volume II (2013); autor do livro História Social e Econômica de Porto Ferreira (2020). Pesquisador Digital Influencer e Produtor Cultural.