As drogas e a mentira

Divulgado em 02/09/2014 - 11:05 por Cap PM Marcelo dos Santos Sançana

Um dos efeitos psicológicos da droga é provocar no viciado o hábito da mentira, isso principalmente quando este se sente ameaçado pela ausência de recursos financeiros para adquirir a droga ou por vergonha de que familiares ou conhecidos descubram que ele é um viciado em entorpecentes. Normalmente, a primeira coisa que vem na vida de um drogado é a droga; em segundo lugar são os amigos que com ele consomem droga; e só em terceiro lugar é que vem a família. O restante (comunidade, órgãos públicos, professores, etc) vem em último plano ou sequer estão em algum plano. Por isso, como a droga vem em primeiro lugar, é que temos visto várias jovens, viciados, agredindo e até matando seus próprios pais. Assim, não se iluda: se o seu filho for viciado, enorme será a chance dele estar primeiramente preocupado com a sua droga e com as suas amizades do que com você (pai/mãe/avô/avó).

Assim, se o seu filho for viciado e estiver nas situações acima descritas, ele mentirá com freqüência e enganará você facilmente, não assumindo os seus atos e jogando sempre a culpa nos outros. Não raras vezes, os adolescentes que praticam crimes mentem descaradamente para os pais dizendo que são inocentes e que foi a polícia, o professor ou o conselho tutelar que produziu tal calúnia. Enganam os pais dizendo que a polícia foi a verdadeira culpada, quando na verdade foram eles próprios que cometeram os delitos; isso justamente para não assumirem a culpa ou não se indisporem com seus pais para continuar enganando-os como sempre fizeram. E o pior: tem pai/mãe/avô que continua acreditando (mesmo quando alertado por alguém de confiança), e até discutindo com quem os alerta, que seu filho é “incapaz” de usar droga e roubar, e que isso somente acontece com os filhos dos outros.

O melhor a fazer quando se tem um filho nessas situações é procurar monitorá-lo constantemente, e, caso seja verificada a sua dependência química, buscar sua internação em uma clínica de recuperação de drogados, visando retirá-lo do vício ou, pelo menos, direcionar a sua educação no sentido de conviver com o vício sem cometer delitos; vale dizer, se não conseguir se desvencilhar do vício que ao menos o sustente sem traficar, roubar ou furtar. Agora, o ideal é que abandone definitivamente o vício, pois, além de deixar de financiar todo esse sistema perverso, se a droga e as más companhias deixarem a sua vida, a família voltará a ser o primeiro plano e não o terceiro lugar como normalmente é na vida de um drogado.

Por fim, se alguém lhe alertar de algo envolvendo seu filho, em princípio agradeça, acredite e fiscalize, bem como procure, caso comprove o seu envolvimento, interná-lo e retirá-lo do mundo das drogas (e isso o quanto antes). Não se volte contra as pessoas que quiseram ajudá-lo, pois, na educação dos filhos convém não errar, mas se isso ocorrer, é melhor que os pais errem pela ação (tentando fazer aquilo que é necessário) do que pela omissão, sendo conivente com coisas ilícitas praticadas por seus próprios filhos.

O autor do texto é Comandante da Polícia Militar de Porto Ferreira