Bairro Paschoal Salzano

Divulgado em 24/11/2014 - 06:00 por Alex Magalhães

Visto pelo uniforme olhar do sensacionalismo da imprensa, o Jardim Paschoal Salzano sempre será visto como Paschoal Salzano. Um bairro periférico de Porto Ferreira a serviço do crime organizado. E a princípio é exatamente isso que o Jardim Paschoal Salzano aparenta ser. Decepciona-se quem adentra em sua entranha a procura de monumento imaterial ou algum patrimônio histórico. Por aqui não se encontra nenhuma obra de arte de Galdí, Van Gogh e nem tão pouco Candido Portinari. Mal poderia! Esse poder cultural de consumo elitizado não cabe na formação social do bairro. Mas isso não o desqualifica como uma aberração social do capital fetiche do mundo globalizado. O Paschoal Salzano seria apenas um embrião dessa arena global e um espermatozóide da Babilônia cultural.

A corrida apocalíptica que o mundo realiza, fragmenta o próprio conceito de volumar a periferia como um sistema escatológico de pulverização criminal. Afinal, como em qualquer loco periférico do País, o Paschoal Salzano possui sua sensibilidade, sua produção artista e social, como estética de uma sociedade que luta para a “evolução de sua espécie”. Pelos olhos do bom senso é possível contemplar todos os dias os trabalhadores saírem de suas residências para produzirem nesse sistema capitalista de Mais-Valia, desde o simples auxiliar de produção, até o educador físico, professor, enfermeiro, administrador de empresa, assistente social.

Portanto, seria um catastrófico preconceito, generalizar o caos e vitimar no holocausto da má distribuição de imagens e informações os trabalhadores dessa periferia, levando ao consumidor de informações uma distorção da verdadeira essência do que realmente existe no bairro do Paschoal Salzano.

Tudo isso para depois conservar essa guilhotina no museu da consciência humana, para que essa máquina saiba conservar somente esse sentido, que o bairro do Paschoal Salzano é a referência do livre acesso ao consumo desenfreado de droga e um “eco-sistema” para realização do crime. Esse bairro já produziu músicos, escritores e jogadores de futebol elitizado. Quem não se lembra do jogador Adriano Ferreira Pinto que saiu dessa periferia para ganhar os campos da Itália e jogar a principal liga de futebol daquele País pelo clube da Atalanta? Nessa principal liga já fora possível vê-lo realizar dribles desconcertantes em jogadores de renome internacional, como fora no caso feito sobre o consagrado zagueiro do Milan e da seleção italiana, Maldini. Contra esse mesmo A time, Adriano já fizera golaço em um chute de longa distância, acertando o ângulo do oponente.

Mas parece que esse tipo de espetáculo é fácil cair no mar morto da consciência do sensacionalismo da imprensa. Prefere ficar com o humor negro da história.

Desculpe-nos por não existir nenhuma Irmã Dulce, indicada ao Nobel da Paz por feitos humanitários, mas por aqui existem verdadeiros seguidores de Cristo, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus, que também realizam silenciosamente trabalhos comunitários e que prestam assistencialismo para ajudar a melhorar a imagem de um bairro e consequentemente de uma cidade, marcada na mídia pela repercussão negativa. Afinal, o olhar da vida é feito de uma oftalmologia cristalina, que reflete o brilho de acordo com a visão. Há o olhar das águias, cuja visão está acima da tempestade; o olhar do beija-flor, que consegue enxergar beleza em meio ao caos; e, o olhar dos corvos, cuja ruína está no DNA da própria oftalmologia. (Por Alex Magalhães).

Nota do site: Texto de autoria do escritor Alex Magalhães após reportagem sobre o bairro por uma emissora de TV.