Em carta a Lula, presidente dos EUA critica STF, defende Bolsonaro e ameaça nova taxação em caso de retaliação; decisão rompe padrão diplomático e acirra tensões entre Brasil e EUA
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta terça-feira (9) a imposição de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil. A medida, que pegou autoridades brasileiras de surpresa, foi formalizada por meio de uma carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e divulgada simultaneamente no perfil oficial de Trump na rede social Truth Social.
A decisão rompe com o padrão tradicional adotado por Washington na imposição de tarifas, que geralmente se baseia em argumentos econômicos, como o desequilíbrio na balança comercial. Desta vez, a motivação declarada é abertamente política: o processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, que se tornou réu por tentativa de golpe de Estado e está inelegível após decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Na carta, Trump afirma que a tarifação se deve a “ataques insidiosos ao processo eleitoral e à liberdade de expressão” no Brasil, fazendo duras críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF), em especial às ações contra plataformas digitais de empresas norte-americanas, como Google, Meta e X (antigo Twitter). O presidente dos EUA também manifesta solidariedade a Bolsonaro, ecoando declarações já feitas em sua rede social, onde classificou o tratamento ao ex-presidente brasileiro como “injusto e autoritário”.
“Não podemos permanecer em silêncio enquanto um aliado estratégico como o Brasil silencia vozes conservadoras e criminaliza líderes eleitos democraticamente”, diz o texto assinado por Trump. “Medidas judiciais que restringem o debate político e penalizam o conservadorismo digital não passarão despercebidas.”
A carta também traz um alerta explícito: caso o Brasil adote qualquer medida retaliatória, haverá uma nova rodada de tarifas, desta vez de mais 50%, totalizando 100% sobre os produtos brasileiros.
Além da taxação imediata, Trump anunciou que o Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR) iniciará uma investigação formal sobre o que chamou de “ataques contínuos do Brasil ao comércio digital de empresas americanas”. Segundo o presidente, as ações do STF afetam negativamente a livre operação de companhias norte-americanas no ambiente digital brasileiro.
A escalada ocorre após o republicano já ter ameaçado aplicar uma tarifa de 10% a todos os países membros do Brics — bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, caso práticas que ele considera “hostis” ao comércio norte-americano continuassem.
Reação brasileira – até o momento, o governo brasileiro não se manifestou oficialmente sobre a carta nem sobre a nova tarifa, mas fontes do Itamaraty ouvidas sob condição de anonimato classificaram o episódio como “grave interferência nos assuntos internos” do país e indicaram que uma resposta institucional está sendo avaliada.
A medida pode ter impactos significativos nas exportações brasileiras, especialmente nos setores de agronegócio, siderurgia e manufaturas, que possuem forte presença no mercado americano. Analistas apontam que o gesto de Trump pode elevar as tensões diplomáticas e comprometer os canais de diálogo entre Brasília e Washington, especialmente em um ano eleitoral nos EUA.
Sinais de alinhamento ideológico – o episódio também sinaliza uma aproximação política explícita entre Trump e Bolsonaro, ambos alvos de processos relacionados a tentativas de reversão dos resultados eleitorais em seus respectivos países. A retórica empregada por Trump reforça uma aliança ideológica que transcende as fronteiras nacionais e se ancora na defesa de pautas conservadoras e no combate ao que chamam de “autoritarismo judicial”.
A postura adotada pelo presidente norte-americano contrasta com a tradição diplomática dos Estados Unidos e levanta questionamentos sobre o futuro das relações comerciais e políticas com o Brasil em um eventual segundo mandato de Trump.
*Fonte: valor.globo.com