Manifestação em Brasília mistura patriotismo verde-amarelo com devoção a Donald Trump e a bandeira dos EUA
No ato realizado neste domingo (3/8) na capital federal, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltaram às ruas com palavras de ordem contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Mas o que chamou a atenção, além dos gritos de “anistia já” e ataques ao Judiciário, foi a exaltação apaixonada ao ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump justamente na semana em que ele ratificou uma tarifa de 50% sobre alguns produtos brasileiros, especialmente carne bovina e café, atingindo diretamente a economia do setor que apoia o bolsonarismo.
A manifestação em Brasília, iniciada às 10h em frente ao Banco Central, teve símbolos recorrentes do bolsonarismo: camisas verde-amarelas, cartazes com frases em inglês e críticas contundentes ao STF.
Uma faixa estampava a mensagem “Thank you, Trump”, como forma de agradecimento ao republicano norte-americano.

Em outro gesto de devoção transnacional, uma bandeira dos Estados Unidos foi içada entre os manifestantes, enquanto o nome de Trump era ovacionado por alguns oradores.
A deputada federal Bia Kicis (PL-DF), falando de cima de um trio elétrico, dedicou o ato aos “perseguidos políticos”, citando figuras como Daniel Silveira, Carla Zambelli e Eduardo Bolsonaro, este último em missão nos EUA, onde tenta articular sanções contra autoridades brasileiras.
Apesar de os filhos do ex-presidente não estarem presentes em Brasília, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) marcou presença na manifestação do Rio. Já Michelle Bolsonaro participou de um protesto em Belém (PA), onde cumpre agenda como presidente do PL Mulher.
A reverência a Trump ocorre num momento em que o ex-presidente norte-americano impõe medidas diretamente prejudiciais ao Brasil. Ao anunciar a nova tarifa, Trump alegou proteger a indústria americana, mas também fez menção explícita à inclusão de Jair Bolsonaro entre os réus do processo que apura tentativa de golpe, conduzido por Alexandre de Moraes. Ou seja, a medida econômica veio acompanhada de um recado político.
Ainda assim, bolsonaristas parecem preferir ignorar o custo econômico da sanção em nome da identificação ideológica. Para parte do grupo, Trump continua sendo uma espécie de liderança moral e símbolo da resistência conservadora, mesmo quando suas ações contrariam os interesses comerciais brasileiros.
Além da defesa de Bolsonaro, o grupo reiterou o pedido de anistia geral aos réus e condenados pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Faixas com frases como “Liberdade não se fatia” apontam para a tentativa de reverter condenações no STF. A oposição tenta usar esse apelo como moeda política para uma possível negociação com Trump em relação às tarifas — uma articulação sem respaldo formal, mas que alimenta o discurso da militância.
O episódio evidencia uma crescente dissociação entre a base bolsonarista e as complexas relações internacionais. Ao mesmo tempo em que pedem apoio de um líder estrangeiro contra instituições brasileiras, exaltam a soberania nacional e acusam os adversários de traição. A dependência simbólica de Trump, ainda que acompanhada de prejuízos concretos ao país, revela uma estratégia em que a fidelidade ideológica se sobrepõe ao pragmatismo econômico e diplomático.
Dessa forma, o ato em Brasília não apenas reforçou as pautas de sempre — ataques ao STF, clamor por anistia, culto à imagem de Bolsonaro — como também revelou uma nova camada do bolsonarismo: a devoção a Trump mesmo sob o peso de sanções. Um gesto que diz mais sobre a narrativa que se quer sustentar do que sobre os fatos concretos que afetam o Brasil.
Fonte: O Tempo de MG