Caso da influenciadora Ana Pink de Ribeirão Preto, condenada por desviar mais de R$ 10 milhões de idosos em esquema de empréstimo consignado delituoso
A paisagem digital, terreno fértil para a construção de influência e fama, tem sido cada vez mais instrumentalizada por criminosos para aplicar golpes complexos e de alto impacto. O caso da influenciadora digital Ana Paula Ferreira Duarte, conhecida como Ana Pink, de Ribeirão Preto (SP), é um exemplo paradigmático e alarmante dessa nova fronteira do crime.
Condenada por integrar uma organização que lesou principalmente aposentados em um esquema fraudulento de empréstimos consignados, sua trajetória, da ostentação de carros de luxo e imóveis milionários na internet à prisão e ao leilão de seus bens, revela os detalhes de uma engrenagem que usa a credibilidade das redes sociais para fraudar.
A determinação recente da Justiça de leiloar pelo menos cinco de seus carros de luxo, incluindo uma Land Rover de R$ 459 mil e duas Mercedes-Benz que somam R$ 378 mil, é mais um capítulo na tentativa de reparar os danos causados às vítimas. No total, bens avaliados em R$ 13 milhões pertencentes a Ana Pink e a seu ex-marido, Maiclérson Gomes da Silva, foram bloqueados.
A lista inclui ainda três apartamentos de alto padrão, uma casa em condomínio fechado e uma loja, todos adquiridos com os mais de R$ 10 milhões obtidos ilegalmente através de lavagem de dinheiro.
Vulnerabilidade – o modus operandi do casal, segundo as investigações, explorava a confiança que a figura pública de Ana Pink inspirava em seu numeroso seguidores.
O esquema, desbaratado em 2022, focava em aposentados, oferecendo falsos serviços de renegociação ou empréstimos consignados, na modalidade de crédito, com taxas mais baixas, mas que desconta parcelas diretamente do benefício ou salário. Na prática, os valores eram desviados para as contas dos criminosos, deixando as vítimas endividadas e sem o dinheiro.
Tanto Ana Pink quanto Maick, que chegou a ser preso mas hoje responde em liberdade, negam as acusações. No entanto, a Justiça já os condenou em primeira instância, decisão posteriormente mantida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (segunda instância). O processo agora segue para instâncias superiores.
Prisão domiciliar – a repercussão do caso também se dá pela relutância de Ana Pink em cumprir as ordens judiciais. Ela estava em prisão domiciliar desde abril de 2023, um benefício concedido com base em sua condição de ré primária e por ser mãe de filhos menores de 12 anos.
No entanto, em agosto deste ano, a Justiça expediu um novo mandado de prisão preventiva após ela descumprir reiteradamente as medidas cautelares.
O Ministério Público apurou e comprovou, através dos registros do condomínio de luxo onde ela mora na zona sul de Ribeirão Preto, pelo menos 66 violações das regras entre fevereiro e julho de 2024. Havia registros de 33 saídas em feriados e fins de semana, e outras 33 entradas e saídas durante a noite e madrugada. Em uma dessas ocasiões, ela retornou para casa às 23h38 do dia 3 de março, durante o Carnaval.
Em 28 ocasiões, ela permaneceu fora de casa por mais de duas horas consecutivas. Em um dos exemplos mais flagrantes, no dia 20 de junho, ela saiu pouco antes das 10h e só retornou após as 20h. O MP também contestou o argumento central de sua defesa – o cuidado com os filhos – ao constatar que não era Ana, mas sim os irmãos mais velhos das crianças, quem as levava para a escola.
Considerada foragida por um período, ela paradoxalmente deu depoimento em audiência virtual e conseguiu reverter a prisão preventiva através de um Habeas Corpus do Superior Tribunal de Justiça (STJ), retornando à prisão domiciliar. Contudo, as novas violações levaram à sua recondução à cadeia no dia 15 de agosto.
Fonte: G1 Ribeirão Preto
