Guerra comercial de Trump leva produtores americanos ao “precipício”; Brasil é o principal beneficiado, com vendas recordes que suprem demanda chinesa pelos próximos meses
A colheita da nova safra de soja nos Estados Unidos começou em setembro sob um cenário de apreensão e quase “pânico”, nas palavras de representantes do setor. Pela primeira vez na história, os produtores americanos iniciam a colheita sem ter vendido um único quilo de soja para a China, seu maior cliente histórico. O motivo é a guerra comercial deflagrada pelo governo do presidente Donald Trump.
Dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) revelam que a China não fechou nenhum contrato de compra para a safra americana 2025/26. A queda é de 100% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando, sem tensões comerciais, os chineses já tinham adquirido 3,9 milhões de toneladas. Os números mostram uma trajetória de queda: em 2023, eram 6,3 milhões de toneladas, e em 2022, 11,4 milhões de toneladas.
O silêncio de Pequim gerou uma “onda crescente de preocupação” entre os sojicultores americanos. Em relatório, a Associação Americana da Soja (ASA) destacou que, nesta época do ano, a China costumava encomendar em média 14% de suas compras anuais dos EUA. A entidade já projeta que o Brasil deve ocupar a maior parte desse espaço vacante.
Brasil é a solução para a China
A projeção da ASA se confirma com ações concretas do mercado. Operadores de commodities citam que, nas últimas semanas, grandes compradores chineses fecharam contratos robustos com exportadores brasileiros: 8 milhões de toneladas para setembro e outras 4 milhões para outubro. Esse volume recorde adquirido do Brasil entre abril e julho é visto como uma preparação estratégica para o boicote à soja americana.
A confirmação do movimento veio do próprio presidente da ASA, Caleb Ragland que expôs a realidade crua: “Infelizmente para os nossos produtores de soja, a China firmou um contrato com o Brasil para atender às necessidades dos próximos meses, evitando a compra de soja dos Estados Unidos”.
O apelo de Trump nas redes sociais em 11 de agosto – “Espero que a China quadruplique rapidamente seus pedidos de soja”, não foi atendido, e ainda produziu o efeito oposto: o volume de pedidos caiu a zero.
A situação deixa claro que, no campo de batalha da guerra comercial, a agricultura brasileira surge como uma das maiores vencedoras, capitalizando-se do impasse entre as duas maiores economias do mundo. Enquanto isso, os produtores dos EUA assistem à colheita com a incerteza de quem colherá os frutos do seu trabalho.
Fonte: CNN Brasil e Canal Rural