Enquanto guerra em Gaza avança, pressão internacional sobre o governo Netanyahu se intensifica com sanções, boicotes e acusações de genocídio
À medida que o conflito em Gaza se aproxima de seu 2º ano, a posição internacional de Israel mostra sinais de erosão sem precedentes. Uma combinação de ações diplomáticas, sanções econômicas e boicotes culturais e esportivos está criando o que a mídia israelense começa a chamar de um “tsunami diplomático”, levando especialistas e ex-altos funcionários a questionarem se o país está se aproximando de um isolamento similar ao que a África do Sul enfrentou durante o regime do apartheid.
O cenário de pressão multifacetada ganhou força esta semana. Além de um relatório de uma comissão de inquérito da ONU acusar Israel de cometer atos genocidas em Gaza, acusação veementemente rejeitada pelo governo israelense, um bloco de países, incluindo Reino Unido, França, Austrália, Bélgica e Canadá, anunciou planos de reconhecer formalmente o Estado da Palestina na próxima Assembleia Geral da ONU.
A retórica diplomática tem se traduzido em ações concretas. A Bélgica e a Espanha anunciaram pacotes de sanções que incluem a proibição de importações de assentamentos israelenses na Cisjordânia, restrições a ministros do governo e embargos de armas. O fundo soberano da Noruega, um dos maiores do mundo, iniciou um processo de desinvestimento em empresas israelenses.
Paralelamente, os primeiros sinais de boicotes culturais e esportivos, uma característica marcante da campanha contra o apartheid sul-africano, começam a surgir. Países como Irlanda e Espanha ameaçam boicotar o Eurovision caso Israel participe, e protestos interromperam uma prova ciclística na Espanha contra a equipe israelense. Em Hollywood, uma carta de boicote assinada por milhares, incluindo estrelas premiadas, pede o isolamento da indústria de entretenimento israelense.
Internamente, a estratégia do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu é criticada. Dois ex-premiês, Ehud Barak e Ehud Olmert, acusam-no de transformar Israel em um “pária internacional”. O próprio Netanyahu admitiu enfrentar um “isolamento econômico” e determinou que Israel deve investir em “operações de influência” para combater a publicidade negativa e reduzir a dependência comercial externa.
Para alguns analistas a pressão é necessária e bem-vinda, assim como foi decisiva para acabar com o apartheid na África do Sul. Ele defende que sanções mais duras podem forçar uma mudança de rumo.
Outros temem que as medidas, ao atingirem toda a sociedade israelense e não apenas o governo, possam ser contraproducentes e alienar a população moderada.
A visão predominante entre observadores é que, apesar da pressão sem precedentes, o apoio firme dos Estados Unidos e a resistência de países-chave da União Europeia, como Alemanha e Itália, ainda protegem Israel de um colapso diplomático total.
Fonte: BBC News Brasil