Tarcísio de Freitas usa “piada” sobre Coca-Cola, com isso levanta dúvidas sobre a sensibilidade e seriedade do governo diante de um grave problema de saúde pública
Em um momento em que o estado de São Paulo deveria demonstrar máxima seriedade e empatia, dada a crescente escalada de casos de intoxicação e mortes por metanol em bebidas alcoólicas adulteradas, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) optou por uma rota perigosamente insensível.
Questionado sobre a gravidade das fatalidades e internações, o governador escolheu o deboche como resposta, desqualificando o drama das vítimas com uma comparação irônica e totalmente inadequada. “No dia que começarem a falsificar Coca-Cola, eu vou me preocupar. Ainda bem que ainda não chegaram nesse ponto. Coca-Cola, até aqui, não — a minha é normal”, declarou.
A declaração gerou uma onda de críticas por diversos ângulos, mas o principal é a minimização da gravidade. O surto de metanol não é uma questão de gosto ou de preferência de marca; é um problema de saúde pública que já ceifou vidas e deixou sequelas graves em várias de pessoas. Ao tratar a situação de forma jocosa, comparando-a à falsificação de um refrigerante, o governador transmite a impressão de que a tragédia está sendo levada com total superficialidade.
A ironia sobre a “sua” bebida ser “normal” é particularmente grave, pois sugere uma autoexclusão moral ou de segurança pessoal que beira a insensibilidade social. A fala de Tarcísio denota um desconhecimento ou insensibilidade gritante com essa realidade social.
Em momentos de crise sanitária e de segurança, a confiança da população nas ações públicas é vital. A fiscalização, o controle de qualidade e a resposta estatal precisam ser reforçados e transmitidos com seriedade.
O tom irônico e descompromissado do governador, no entanto, opera no sentido contrário: ele mina a credibilidade das instituições, sugerindo que o problema só merece atenção quando atinge patamares de produtos “de consumo em massa”.
A declaração de Tarcísio de Freitas não é apenas um deslize, mas um sinal de que o governo está distante do sofrimento humano. A retórica pode ser lida como um calculismo político, um “jogar para a torcida” que prioriza uma imagem de austeridade desconectada da empatia, em vez de focar na urgência de ações firmes.
O que o governador de São Paulo entregou foi uma piada fora de hora que desrespeita o sofrimento das famílias e lança sombras sobre a prioridade de seu governo.
Por Marco Antônio Mourão
