Operações de combate só ocorreram após vítimas inocentes perderem a vida intoxicadas por metanol; esquema clandestino, que pode envolver crime organizado, atuava livremente em SP, distribuindo produtos fraudados para bares em todo o estado paulista
A incompetência e a falta de fiscalização sistemática por parte do governo do Estado de São Paulo e das vigilâncias sanitárias municipais permitiram que uma vasta indústria de bebidas alcoólicas falsificadas operasse livremente no território paulista.
A ação efetiva das autoridades só veio após a tragédia: a morte de vítimas inocentes intoxicados por metanol após consumirem drinks em um bar da capital.
A Polícia Civil localizou e desmantelou uma fábrica clandestina em São Bernardo do Campo, na região do ABC, na última sexta-feira, 10. A operação foi desencadeada a partir da investigação das mortes de Ricardo Lopes, de 54 anos, e Marcos Antônio Jorge Júnior, de 46 anos. Eles consumiram bebidas no Bar Torres, localizado na Mooca, zona leste de São Paulo, que agora se encontra interditado.

Ricardo Lopes passou mal no dia 12 de setembro e faleceu quatro dias depois. Sua morte acionou a polícia, que, ao vistoriar o estabelecimento, apreendeu nove garrafas. O resultado foi chocante: oito delas continham metanol em quantidades elevadíssimas, com percentuais que variavam de 14,6% a 45,1%. A substância é altamente tóxica para o corpo humano e pode ser fatal mesmo em pequenas doses.
De acordo com as investigações, o proprietário do bar admitiu ter comprado as bebidas de uma distribuidora ilegal. O esquema criminoso utilizava etanol de postos de combustível para fabricar as bebidas de forma irregular. No entanto, o produto adquirido estava contaminado com metanol, o que levou às mortes.
A situação expõe uma falha gravíssima na estrutura de controle do estado. A tragédia serviu como um alerta sangrento para a existência de dezenas de fábricas clandestinas que atuam impunemente no estado de São Paulo, distribuindo produtos falsificados e sem qualquer controle de qualidade para adegas e bares na capital, região metropolitana e interior.
As evidências apontam para a ação de quadrilhas extremamente organizadas, que lucram enormemente com a adulteração do setor de bebidas destiladas no estado mais rico da federação. A sofisticação e a abrangência da distribuição sugerem a possível participação do crime organizado na logística de fornecimento desses produtos perigosos para estabelecimentos comerciais por todo o estado.
A pergunta que fica, diante da tragédia evitável, é: quantas vidas ainda seriam necessárias para que o poder público acordasse para seu dever de proteger a população. A fiscalização, que deveria ser preventiva, mostrou-se reativa e tardia, com consequências fatais.
Fonte: Estadão e Metropoles