Único estado do país a ampliar suas áreas verdes nos últimos 39 anos, o Rio colhe os frutos de projetos ambientais, mobilização comunitária e a força de regeneração da natureza
O que já foi um vasto tapete verde hoje resiste em fragmentos. A Mata Atlântica, bioma originalmente presente em mais de 1,3 milhão de km² do território brasileiro, foi severamente devastada desde a chegada dos portugueses. Restam apenas 12,4% dessa cobertura original. Mas, contra a corrente histórica, um estado desponta como exceção e esperança: o Rio de Janeiro.
Segundo dados do MapBiomas, o Rio foi o único estado brasileiro a registrar ampliação de áreas verdes nos últimos 39 anos, especialmente em zonas urbanas. Essa reversão de cenário é resultado direto de décadas de esforços ambientais articulados entre pesquisadores, instituições, poder público e comunidades locais. Um movimento que tem como objetivo não apenas recuperar o que foi perdido, mas repensar a relação entre cidade e floresta.
A bióloga Aliny Pires, professora da Uerj e coordenadora do relatório da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES), explica que o estado passou por um processo histórico de devastação intenso. “O processo de colonização do país teve uma centralidade muito forte no território fluminense, o que levou a uma modificação intensa da paisagem natural. Historicamente, o estado chegou a um nível extremo de degradação ambiental. Podemos dizer que chegou ‘ao fundo do poço’”, afirma.
A boa notícia é que a Mata Atlântica ainda guarda uma característica vital: sua impressionante capacidade de regeneração. Quando o solo não é totalmente degradado, a floresta tem potencial para retornar e é isso que vem sendo observado no Rio. Áreas antes desmatadas estão sendo reflorestadas, e a biodiversidade começa a dar sinais de retorno.
Entre os principais vetores dessa transformação estão projetos de restauração ecológica, como mutirões de plantio com espécies nativas, monitoramento ambiental com tecnologia de ponta e educação ambiental nas periferias urbanas. Essas iniciativas se espalham por diversas regiões do estado, desde comunidades da Zona Oeste da capital até áreas rurais no interior.
A tendência registrada pelo MapBiomas não apenas representa um ganho ambiental, mas também social e econômico. O reflorestamento contribui para a melhoria da qualidade do ar, da água, para a prevenção de desastres naturais e até para a geração de empregos verdes.
Diante de um país onde o desmatamento ainda predomina, o exemplo fluminense se destaca como símbolo de resistência, recuperação e possibilidade. Um lembrete de que, apesar dos danos do passado, a natureza e a vontade de reconstruí-la pode florescer novamente.
Fonte: agendadopoder