Somente em agosto, a produção industrial caiu 4,4% em relação ao ano anterior. O desemprego nos subúrbios industriais de Buenos Aires disparou para 9,8% no segundo trimestre.
A Lumilagro, tradicional fabricante argentina de garrafas térmicas com mais de 80 anos de história, símbolo do onipresente ritual do mate no país, está à beira do colapso.
O fechamento de um forno de vidro, a operação de apenas uma das quatro linhas de montagem e a demissão de dois terços da força de trabalho (de 160 para 60 pessoas) marcam o doloroso recuo da empresa, que agora importa a maioria dos produtos que vende. A Lumilagro não consegue competir com importações mais baratas, que chegam ao país com preços até 30% inferiores ao custo de produção local.
O drama da Lumilagro é um reflexo contundente dos efeitos colaterais da reforma econômica radical do presidente Javier Milei, que o presidente dos EUA, Donald Trump, chamou de seu “presidente favorito”.
A desregulamentação implementada por Milei estimulou a crescente concorrência de produtos estrangeiros, beneficiados por um peso considerado supervalorizado no câmbio.
Embora os drásticos cortes de gastos de Milei tenham gerado um superávit fiscal e conseguido inicialmente reduzir a inflação (que voltou a acelerar em setembro), a indústria tem pago um preço alto:
- Queda na Produção: Somente em agosto, a produção industrial caiu 4,4% em relação ao ano anterior.
- Aumento do Desemprego: O desemprego nos subúrbios industriais de Buenos Aires disparou para 9,8% no segundo trimestre.
O cenário se repete em outros setores, como no caso da cerâmica Ilva, que fechou sua fábrica, deixando 300 ex-funcionários acampados e exigindo indenização. Um proprietário de fábrica de peças automotivas, sob anonimato, revelou que as peças que importa da China custam até 75% menos do que as feitas localmente, forçando-o a cortar a produção pela metade.
Economistas apontam que a manutenção de uma moeda local inflacionada (o peso supervalorizado) e as altas taxas de juros, políticas usadas para tentar conter a inflação anual de cerca de 200%, acabaram por catalisar o aumento das importações.
A dificuldade na geração de empregos é agravada pelo foco do governo em setores como energia, mineração e agricultura, que são menos intensivos em mão de obra
O desgaste da indústria está minando o apoio ao presidente, cuja taxa de aprovação caiu para 39% em setembro, em meio a um cansaço com as medidas de austeridade. A situação ocorre em um momento crucial, antes das eleições de meio de mandato deste mês, onde o partido de Milei precisa aumentar sua presença no Congresso para avançar com sua agenda de reformas.
Fontes: Folha de S. Paulo e Reuters