Um erro histórico crasso em um material digital da Secretaria de Educação do Estado localiza a Segunda Guerra Mundial na década de 1950, expondo a negligência e a falta de compromisso do governo estadual com o ensino público
A educação paulista, outrora referência nacional, afunda em um mar de absurdos. A prova mais recente e gritante desse descaso é a distribuição, pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP), de um material didático repleto de erros grosseiros, que chega ao cúmulo de realocar um dos eventos mais importantes do século XX em uma linha do tempo completamente equivocada.
Um material digital de geografia, voltado para a segunda série do ensino médio e intitulado “Globalização e economia mundial”, afirma, em um trecho estarrecedor: “Na década de 1950, a Europa foi o palco de um grande conflito, a 2° Guerra Mundial”.
O absurdo não para aí. O texto continua: “Os países destacados no mapa lutaram em lados opostos do conflito, mas após seu fim se viram obrigados a enfrentar uma nova ordem mundial com duas grandes potências: os EUA a URSS”.
A passagem, além de cometer um anacronismo grotesco, demonstra uma revisão negligente ou, pior, uma elaboração às pressas, sem qualquer supervisão pedagógica qualificada.
Esse episódio não é um simples “lapso”. É a face visível de um projeto de desmonte e desvalorização da educação pública. Enquanto o governo de São Paulo gasta milhões em marketing institucional, falha no básico: fornecer um material digno e correto para milhões de estudantes que dependem do ensino estadual.
Ecoando a gravidade do caso, o Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) emitiu uma nota condenando veementemente o erro.
O sindicato afirma que o fato “reflete descompromisso com a qualidade de ensino” e alerta, com acerto, para a perigosa “plataformização digital do processo ensino-aprendizagem”, implementada de forma abrupta e sem o devido amparo de estudos pedagógicos, contrariando recomendações nacionais e internacionais.
Diante da exposição pública do escândalo, a Secretaria da Educação limitou-se a emitir uma nota fria e burocrática, informando que “já determinou a retificação e atualização do material”.
Tais promessas, no entanto, soam vazias e cínicas. Elas só foram feitas após o erro ter sido estampado na imprensa e denunciado ao MP. Onde estava a suposta “revisão e controle de qualidade” antes da distribuição do material?
Quantos outros erros, talvez menos evidentes, mas igualmente danosos, permanecem nos cadernos e plataformas digitais dos estudantes?
Este não é um caso isolado. É a materialização de uma política educacional negligente, que trata a rede de ensino como uma linha de produção, onde quantidade e cortes de custo se sobrepõem brutalmente à qualidade.
O governo de São Paulo, ao permitir que um erro histórico de tal magnitude chegue às mãos de alunos, demonstra seu profundo desprezo pelo conhecimento, pelos professores e, principalmente, pelo futuro de uma geração inteira de jovens paulistas.
A educação básica no estado clama por socorro, e a resposta do governo, até agora, tem sido a distribuição de desinformação.
Fonte: Folha de S. Paulo







