Pressões contra investigações e tentativas de salvar o banco, em situação de pré falência, com dinheiro público expõem relações suspeitas de governadores, senadores e deputados com o Banco Master
A Operação “Compliance Zero”, deflagrada pela Polícia Federal, expôs aquilo que há meses circulava : o Banco Master não era apenas uma instituição financeira em apuros, era também o centro de um conjunto de relações políticas no mínimo suspeitas.
Com o controlador Daniel Vorcaro preso preventivamente e acusado de crimes como gestão fraudulenta, temerária e organização criminosa, começaram a emergir as conexões que ajudaram a sustentar, proteger e, em alguns casos, até turbinar as operações questionáveis da instituição.
O rombo bilionário, turbinado por captação agressiva de recursos por meio de CDBs com remuneração acima do mercado e investimentos arriscados envolvendo fundos de pensão, ameaça diretamente servidores públicos, como os do Estado do Rio de Janeiro, cujo fundo Rioprevidência despejou R$ 2,6 bilhões no Master. O risco de calote é real, e os estragos podem recair, como sempre, sobre aposentados, pensionistas e contribuintes.
E, enquanto o banco crescia no rastro de operações temerárias, crescia também sua teia de influência política — com um nome sempre orbitando o centro do esquema: o senador Ciro Nogueira (PP-PI).
Padrinho político do Master
O senador do Centrão – Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil e presidente nacional do Progressistas é considerado o principal aliado político de Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, em Brasília. E não se trata de mera proximidade social: as articulações do senador teriam influência direta em decisões que favoreceriam o banqueiro.
Entre os movimentos mais controversos, destaca-se a atuação de Ciro em defesa da operação que poderia ter mudado o destino do Banco Master: a tentativa de fazer o BRB (Banco de Brasília), instituição pública controlada pelo Governo do Distrito Federal, adquirir parte do Master.
Uma transação vista como uma manobra para empurrar “ativos podres” e prejuízos crescentes para um banco público isto é, para o contribuinte.
A aproximação não para por aí. O ex-presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, afastado após a operação policial, ascendeu ao cargo por indicação do próprio Ciro Nogueira, reforçando a impressão de que a ponte entre o banco público e o Master não era obra do acaso.
Há ainda a menção à chamada “emenda Master”, supostamente articulada pelo senador para beneficiar interesses do banco em meio a operações financeiras consideradas especulativas.
Blindagem
Apesar de não haver registro formal de que Ciro Nogueira tenha impedido diretamente a instalação de uma CPI, sua influência é apontada como um dos fatores que emperraram investigações quando o escândalo ainda era apenas fumaça. A postura do senador é vista como uma defesa aberta dos interesses do Master, uma blindagem que se tornou insustentável a partir da prisão de Daniel Vorcaro.
A operação policial mudou o cenário político. O desgaste atingiu aliados importantes, como o ex-governador do Distrito Federal Ibaneis Rocha (MDB), defensor da controversa operação BRB–Master. A pressão pública cresceu, e a crise finalmente chegou ao Legislativo.
Deputados distritais do DF protocolaram a criação de uma CPI para investigar o imbróglio entre Master e BRB. No Congresso Nacional, o tema entrou no radar da CPMI do INSS, que já busca conexões entre o banco, grupos religiosos e um esquema de fraudes na previdência. Pedidos de quebra de sigilo de investigados começam a cercar figuras próximas ao banqueiro.
A tentativa de evitar investigações, associada à defesa quase militante de interesses privados por figuras públicas, coloca o episódio do Banco Master no alcance de um escândalo institucional. Mais do que a falência de um banco, trata-se da falência de um modelo em que influência política se mistura com operações financeiras arriscadas, sempre com o risco final recaindo sobre o dinheiro público.
Se confirmadas as articulações apontadas, o papel de Ciro Nogueira não será apenas o de aliado inconveniente de um banqueiro problemático, mas o de ator político que tentou interferir em decisões de Estado para proteger um esquema sob investigação da Polícia Federal.
O que a CPI, se de fato avançar, poderá revelar é algo maior do que irregularidades bancárias: é até onde foi a mão da política para blindar um esquema que agora ameaça fundos de pensão, servidores públicos e o próprio sistema financeiro.
O escândalo do Banco Master não é apenas sobre corrupção ou má gestão. É sobre as zonas cinzentas onde poder político e dinheiro se encontram — e onde, repetidas vezes, a conta sobra para o cidadão comum.
Fontes: ICL – Mercados e Investimentos e Estadão







