Centrão não está disposto a queimar seu capital político em uma defesa real do ex-presidente, promento a esse “anistia light”, ou seja, não dará a elegibilidade Jair Bolsonoso
A reação de líderes do Centrão, notadamente do PP, PSD, União Brasil e do PL à prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro revela um cálculo político frio e estratégico, distante de qualquer lealdade inabalável.
Ao mesmo tempo em que, nos corredores do poder, se celebra o fim de um protagonista que se tornou um fardo devido à sua alta rejeição e aos seus problemas com a Justiça, o discurso público se ancora na tática da “injustiça” e da “severidade” para pescar os órfãos do bolsonarismo.
O diagnóstico é claro: Bolsonaro já não é o ativo eleitoral de outrora. Sua condenação e prisão o transformam em um passivo pesado, um candidato que arrasta a chapa para baixo. O fim de sua elegibilidade abre um vácuo de votos na direita que PP, União Brasil e PSD cobiçam intensamente. O jogo do Centrão é, portanto, duplo.
Em público, expressam indignação para reter o eleitorado fiel do bolsonarismo. Essa é a ponte para tentar absorver a base mais fanática sem, contudo, ter de carregar o peso do ex-presidente em futuras campanhas.
Porém, no privado, festejam a desobrigação de defender o indefensável e a oportunidade de disputar a hegemonia da direita com novos nomes, sem a família Bolsonaro na cabeça de chapa, demonstrando que o Centrão não está disposto a queimar seu capital político em uma defesa real do ex-presidente, promento a esse “anistia light”, ou seja, não dará a elegibilidade Jair Bolsonoso e nem para o seu filho Eduardo Bolsonaro.
A imagem que se desenha é a de que os líderes do Centrão agem como “urubus sobre uma carniça recém-morta”. Os dirigentes partidários atuam com a previsibilidade dos predadores. O lamento público é apenas o ruído de fundo enquanto se preparam para dividir os restos do capital político de Bolsonaro, afastando-se do radicalismo que se provou tóxico, mas abraçando a base que ainda vota com fervor. É a mais pura manifestação do pragmatismo do Centrão: a ideologia é o poder — e o poder, agora, reside em capturar os votos que, a princípio, ficaram sem dono.
A grande batalha da direita será travada nos próximos meses, definindo quem será o herdeiro legítimo do capital político de Bolsonaro. O Centrão, com sua força e ganância por poder e dinheiro, posiciona-se para ser o gestor dessa transição, apresentando-se como a “direita garfo e faca”, de olho no orçamento, para que as emendas “Pix” voltem, com um governo dominado pelos parlamentares, a perpetuar o fisiologismo e a destruir avanços sociais sob a desculpa da necessidade de “ajuste fiscal nas contas” — sempre às custas dos mais pobres e nunca às do próprio Centrão e de seus fisiológicos.
Por Marco Antônio Mourão








