Entraves com excesso burocracia, logística precária, elevada carga tributária para bens industriais e juros elevados encarecem produtos, reduzem investimentos e afetam diretamente o poder de compra da população
Em meio a um cenário global marcado por conflitos geopolíticos, barreiras comerciais e disputas tarifárias, as empresas brasileiras ainda enfrentam um obstáculo interno de grandes proporções: o chamado Custo Brasil.
Segundo levantamento do Observatório do Custo Brasil, fazer negócios no país custa R$ 1,7 trilhão por ano a mais do que a média dos países integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne as principais economias do mundo.
O Custo Brasil é o conjunto de fatores estruturais que reduzem a competitividade das empresas nacionais, atrasam decisões de investimento e encarecem a produção. Entre os principais componentes estão o excesso de burocracia, a logística ineficiente, a elevada carga tributária sobre produção e consumo, a insegurança jurídica, o alto custo da energia e os juros elevados, além de entraves regulatórios históricos.
Embora muitas vezes associado apenas ao ambiente empresarial, o impacto do Custo Brasil chega diretamente ao consumidor. De acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), esses entraves elevam de 20% a 25% os preços dos produtos vendidos no país. Além disso, reduzem a competitividade das empresas brasileiras no exterior, limitando exportações e o crescimento econômico.
O efeito é duplo para a população. Ao mesmo tempo em que os preços sobem, os investimentos são inibidos, reduzindo a geração de empregos e pressionando os salários no setor industrial .
O conceito de Custo Brasil surgiu há cerca de 30 anos, quando a indústria começou a apontar a necessidade de reduzir entraves estruturais após o fim do período de hiperinflação. Desde então, avanços ocorreram, mas de forma lenta e insuficiente.
Nos últimos anos, um esforço conjunto entre setor público e iniciativa privada permitiu dimensionar o problema de forma mais concreta. A cifra de R$ 1,7 trilhão resulta de estudos conduzidos por instituições como o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), o Movimento Brasil Competitivo (MBC) e a CNI.
Apesar dos esforços, a lentidão das transformações persistem, como acontece no mercado de gás natural. Mesmo após a aprovação da Lei nº 14.134, em 2021, que abriu caminho para maior concorrência, o preço do insumo no Brasil segue quase cinco vezes maior que o dos Estados Unidos e cerca de 65% acima da média da União Europeia.
A Reforma Tributária recentemente aprovada é vista como um dos principais instrumentos para enfrentar o problema. Hoje, as empresas brasileiras gastam entre R$ 270 bilhões e R$ 310 bilhões por ano apenas para calcular e recolher tributos, dedicando cerca de 1.500 horas anuais a essa tarefa — quase dez vezes mais do que a média das empresas nos países da OCDE. A expectativa é que, após o período de transição, haja redução significativa de tempo e custos.
Segundo o MBC, a Reforma Tributária integra um conjunto de projetos em 14 áreas capazes de reduzir o Custo Brasil em até R$ 530 bilhões por ano, o equivalente a uma queda de 30% em relação ao patamar atual.
Os dados indicam que a mudança é possível, mas exigem continuidade das reformas e rapidez na implementação. Para especialistas e empresários, não há espaço para acomodação diante de um problema que afeta toda a economia e o dia a dia dos brasileiros.
Fonte: Revista Exame







