Câmara sugere o nome de Hermínia Fernandes Lopes para o prédio do Anexo Fiscal
A Câmara Municipal aprovou por unanimidade na sessão ordinária da última segunda-feira, 7, um requerimento no qual os vereadores sugerem o nome de Hermínia Fernandes Lopes para o prédio que abrigará o futuro Anexo de Execuções Fiscais da Comarca de Porto Ferreira.
De autoria do vereador Rômulo Rippa e subscrito pelos nove legisladores ferreirenses – Gilson Alberto Strozzi, Sérgio de Moraes Martins, Carlos Alberto Teixeira, Valdir Bosso, Carlos César Berque, Luís Adriano Alves Pinto, Luiz Antonio de Moraes, Marcelo Nery de Oliveira e Élcio Arruda – a proposta será oficialmente encaminhada ao presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), Desembargador José Roberto Bedran, solicitando que estude a possibilidade dar o nome de “Dona Hermínia”, como era mais conhecida, ao Anexo Fiscal a ser instalado em um imóvel da rua Luiz Gama.
O Poder Legislativo municipal mobilizou-se nas últimas semanas em busca da concessão da homenagem em virtude da indicada ter prestado relevantes serviços à sociedade ferreirense, exercendo a função de cartorária por mais de 45 anos.
Dona Hermínia sempre foi reconhecida pela postura ilibada e retilínea junto ao povo ferreirense. Uma mulher que estava na vanguarda de seu tempo. Segundo o caçula da família, Nelson Pereira Lopes Filho, ela iniciou a prestação de serviços extrajudiciais em solo ferreirense antes mesmo da instalação da Comarca no município.
“Vendo a possibilidade de homenagearmos tal personalidade, não somente sua família e seus amigos, toda nossa população se sentirá lisonjeada”, afirmou Rippa, autor da proposta.
Também vale a pena lembrar que por dezenas de vezes as autoridades do Poder Judiciário, do Poder Executivo e do Legislativo já buscaram uma forma de homenagear Hermínia Fernandes Lopes tão grande a dedicação e dignificação do serviço público exercido pela cartorária, mas até hoje não houve sucesso para conceder as honras a uma legítima cidadã ferreirense.
Quem foi Dona Hermínia- Se na década de 50 as mulheres se atiravam em um movimento feminista de independência, rompendo laços e tabu, voluntariamente, não podemos deixar de lembrar quem 20 anos antes dessa época, teve que, por força das circunstâncias, assumir papéis bem diversos do de “rainha do lar”.
Essa história começa em Portugal, Província de Vila Real, onde os Fernandes e os Lopes já prometiam em casamento alguns de seus filhos.
Vieram para o Brasil, os Lopes de mais posses, instalaram-se em São Paulo, os Fernandes de menos posses, em Porto Ferreira. Os Fernandes chegaram mesmo a executar trabalhos braçais na lavoura de nossa cidade.
A menina Hermínia Fernandes, nascida em Porto Ferreira, a 23 de março de 1910, aos 14 anos foi estudar em São Paulo, hospedada pelos Lopes. Recebeu formação requintada, ligada à música pelos estudos do piano. O casamento em 1927 com Nelson Pereira Lopes concretizou a vontade das famílias.
O casal vem para Porto Ferreira e Nelson Pereira Lopes (pai) assume o papel de escrivão do cartório em substituição a Urbano da Silva Oliveira, ficou no posto até que em 1938 foi nomeado prefeito, pelo então governador Ademar de Barros. Ele se licencia do cartório e a Hermínia Fernandes Lopes, que já trabalhava junto com o marido, assume como escrivã-interina.
Nesta época já começa a conjugar a função de mãe dos filhos Neide (9 anos) e Nilson (8 anos) com a de mulher-trabalhadora. Mas o pior aconteceria em 19 de julho de 1940, quando Nelson Pereira Lopes, então prefeito de Porto Ferreira, faleceu.
A cartorária Hermínia Fernandes Lopes, viúva aos 29 anos, agora já com três filhos, (Nelson com 6 meses), teve que enfrentar muita luta para continuar com cartório – prestou concurso para cartorária, seu nome foi apresentado em lista tríplice ao governador, e foi escolhida, dentro das regras da época.
Foi sua primeira vitória. Vieram outras. A superação de problemas que até hoje afligem a toda mulher que trabalha fora, como horário para os filhos, qualidade de atenção e formação deles.
Neide formou-se professora pelo então Instituto de Educação de Pirassununga. Nilson formou-se arquiteto pela Universidade Mackenzie de São Paulo e Nelson em eletrotécnica e direito pela Faculdade de Direito de São Carlos. Ela conseguiu fazer dois papéis, pai e mãe, sendo muito carinhosa e prestativa.
A sua independência já marcava época e estilo antes mesmo de feministas se organizarem. Quando depois de lavrar escrituras, era convidada pelos compradores a “tomar uma cervejinha para comemorar”, a cartorária cumpria seu papel, e os acompanhava nos festejos, partilhando da alegria.
Em 1951 importou um carro e inovou, dirigindo pelas ruas da cidade, que muitos anos depois ainda era novidade: ver-se mulher ao volante. A mulher que exercia sua profissão de maneira severa, rígida, com imparcialidade, era também, uma excelente quituteira de forno e fogão.
Serviu ao Estado por 45 anos, de 1937 a 1982, quando em maio aposentou. E não chegou a receber sequer um salário como tal, pois em 24 de junho de 1982, faleceu, deixando um exemplo de como superar os tabus.
Fonte: Vereador Rômulo Rippa
