Os grandes males pedem grandes remédios

O título deste artigo remete ao Sermão de São Roque, de Padre Vieira, proferido em 1659. Serve-nos de inspiração para ver, julgar e agir sobre um dos maiores males de nosso tempo, a corrupção.

Infelizmente, o Brasil frequenta, desde que se mede a corrupção mundial, há 16 anos, a incômoda faixa da 60ª à 80ª posição no ranking da percepção da corrupção entre as nações (no ano passado, o País ocupou a 69ª, entre os 178 países, devendo estar próximo disso no relatório que, provavelmente, será apresentado em outubro pela TransparencyInternational). A nota que o Brasil vem tirando anda, sistematicamente, perto de 3,5 (3,7 no ano passado) – numa escala de 0 a 10 -, o que nos deixa muito longe dos países nórdicos, com suas invejáveis notas ao redor de 9,5.

Esse índice é bem conhecido e amplamente divulgado e discutido a cada ano, quando a Transparency lança seu novo relatório. O que se discute menos é outro índice, o que mede a percepção da corrupção nacional pelos próprios cidadãos. No último levantamento, de 2010, apenas 4% dos mil brasileiros entrevistados pelo Ibope para a TransparencyInternational reportaram que já pagaram propina a algum dos prestadores de serviço elencados na entrevista – funcionários públicos, policiais, políticos, etc. – para a obtenção ou aceleração de algum favor ou serviço. Isso nos deixaria na seleta lista dos países menos corruptos do mundo.

Ou então, mais preocupante, essa discrepância entre a corrupção medida e a sua percepção pela população poderia estar demonstrando o despreparo com que o cidadão brasileiro encara a corrupção e a necessidade de combatê-la.

Teríamos, então, um problema de raiz, tão profundo, que todas as intenções governamentais e o impressionante instrumental hoje colocado à disposição do cidadão – tal como portais da transparência, contas públicas abertas, jornalismo investigativo, procuradores independentes e dinâmicos – não bastariam para nos tirar desse patamar.

A Presidente Dilma Rousseff, por ocasião de sua participação na Assembleia Geral das Nações Unidas, reafirmou seu compromisso com a transparência e o combate aos “malfeitos” – entenda-se, à corrupção. Trata-se de atitude admirável, principalmente vinda da líder maior da nação, eleita com mais de 55 milhões de votos e que deve, portanto, servir de exemplo para o seu País.

Ver e julgar. Não há como desconsiderar que a corrupção corrói setores públicos e privados. Vamos ao agir. No mesmo “Sermão de São Roque”, afirma Vieira, “o maior perigo não é quando se teme o perigo, é quando se teme o remédio”. E o remédio é o agir.

É preciso incutir em cada um dos brasileiros a consciência de que o comportamento ético começa em casa, no exemplo que os pais dão aos filhos. Segue na escola, onde professores preparados e valorizados devem ensinar e discutir os valores com os alunos desde as primeiras incursões nesse espaço de paz. É assunto de responsabilidade de todas as esferas da administração – municipal, estadual e federal, de todos os poderes e de toda a sociedade organizada.

Se a educação demora a surtir efeitos, usemos, imediatamente, a tecnologia. Aí está a solução mais rápida – transparência, eficiência de sistemas, vigilância de ações e punição justa aos responsáveis.

É preciso usar os remédios sem medo. Os que temem os remédios preferem conviver com os “malfeitos” e desperdiçam a oportunidade de exercício do poder, seja público ou privado, para fazer o bem.

A ética se constrói tijolo a tijolo no cotidiano, no hábito. E o seu exercício é o grande remédio para este grande mal: a corrupção.

* Gabriel Chalita, escritor, professor e doutor em Filosofia do Direito e em Comunicação e Semiótica, é Deputado Federal (PMDB/SP). Foi Secretário de Estado da Educação de São Paulo (2003-2006).

Fonte: brasil 247

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