Eleger os que “fazem, mas não roubam”, isso é possível?

Como é possível explicar o aparente paradoxo da existência de políticos corruptos com forte apoio eleitoral em um quadro em que a corrupção é fortemente rejeitada?

Ironicamente, se a população tivesse predileção pela corrupção não haveria paradoxo algum. E os políticos não teriam, por exemplo, que temer custos reputacionais gerados pelas CPIs. O argumento de que certas culturas toleram ou até preferem a corrupção não se sustenta à luz das evidências.

Pesquisas revelam que a corrupção política em países anglo saxônicos – supostamente menos propensos à corrupção – como os EUA e a Inglaterra no século XIX, era tão elevada quanto na América Latina hoje. Mudou a cultura? Não, o que mudou foi a efetividade das instituições democráticas de “checks & balances”.

Uma pesquisa realizada pelo Ibope e comissionada por Winters e Shapiro, em 2010, mostra que 72% dos respondentes rejeitam a corrupção no Brasil.

Entretanto, é público e notório o sucesso eleitoral de políticos sobre os quais pesam condenações nos Tribunais de Contas e no Judiciário.

Uma explicação para o paradoxo de corrupção impopular e malfeitores com forte apoio eleitoral é que o problema seria fundamentalmente “informacional”. Os eleitores não possuem informação crível sobre a corrupção.

Uma vez informados – por meio da mídia, ONGs ou órgãos de controle – eles se comportam de forma consistente, penalizando o corrupto. Baixa “sofisticação política” – ou seja, conhecimento precário sobre o funcionamento do sistema político – associada a fatores como renda ou escolaridade baixas também explicariam a inconsistência entre atitude frente à corrupção e voto.

Argumentos sobre votar nos que “roubam, mas fazem”

1º – Uma variante do argumento informacional centra-se na incapacidade dos eleitores em processar informações que recebem sobre corrupção. Esse problema se exacerba quando políticos corruptos saturam o ambiente com denúncias generalizadas de irregularidades confundindo assim o eleitor.

2º – Outro argumento é que, na realidade, a corrupção é apenas uma das várias dimensões que os eleitores consideram em seu cálculo. Não existiria aqui problema informacional. Os eleitores vão ponderar a corrupção contra diversos fatores como ideologia, capacidade gerencial, religião ou lealdade regional, entre outros.

3º – É seguramente a mais popular – refere-se, na realidade, ao “quid pro quo” entre candidatos e eleitores: estes trocariam seus votos por benefícios particularistas: como uma cesta básica ou outra benesse qualquer.

A questão é mais complexa do que parece porque candidatos e eleitores podem renegar suas promessas. No caso do candidato, este pode deixar de prover o benefício prometido. No caso do eleitor, este pode deixar de votar no candidato prometido uma vez já tendo recebido o beneficio.

Esse “quid pro quo” não precisa necessariamente envolver a distribuição de bens privados, mas também a oferta de bens públicos, tais como infraestrutura urbana, escolas e postos de saúde.

Essa é a lógica do conhecido “rouba mas faz”. Ou seja, mesmo eleitores bem informados podem votar em políticos notoriamente corruptos se estes propiciarem benefícios públicos em uma escala que compense os custos de eleger corruptos.

Fonte: Valor econômico – baseado no texto original de Marcus André Melo

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