Autismo: respeite-me se for capaz

Dizia Guimarães Rosa: “Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam”. Essa visão caracterizada de sabedoria, é o grande desafio a ser conquistado pela sociedade brasileira em relação aos autistas. Quando um cidadão enxerga uma criança autista e queira ensinar lições carregadas de preconceitos, ignorâncias, associando o autismo a “birras”, “manhas” ou “falta de educação”, fica caracterizado que esse indivíduo não conhece nada sobre autismo.

O autismo tem seus desafios peculiares, a falta de adaptação social e nesse horizonte analítico, existem as perspectivas analíticas, de humanos que buscam a construção desse universo paralelo, para aproximar-se os elos e criar uma única matriz, que forma a autoconstrução social. Em outra palavras, a orientação do autismo não é realizada com o mesmo critério e padrão que se realiza de um outro ser, denominado “normal”.

Portanto, a construção intelectual que proporciona pelo caminho do autismo, explica-se pela experiência prática de elaborar afetividade, aproximação amorosa e paciência. O autismo reproduz resistências ao métodos convencionais de educação, conceituando o real com uma particularidade do autista, acerca das reações sociais e suas visões de mundo e da interação do meio. Por isso é necessário a qualificação técnica da pratica do serviço dessas relações, mas acima de tudo é um desafio ao humanismo, movimentar-se através do respeito para adquirir confiança.

Para começar relatar esse universo, observei bem Núbia, a minha caçula de dois anos que foi descoberta o seu autismo por meio de seus comportamentos próprios, de uma criança com autismo. A princípio tínhamos aquele olhar ignorante, sem regras especificas para conservar a educação da criança. Porém, a mãe dela em parte foi visualizando em Núbia uma semelhança com outras crianças autistas, conforme o relato de mães de crianças com autismo. E nessa interação com esse universo, deu-se a partida para buscar os profissionais do meio e diante de uma investigação profunda, descobriu-se que Núbia Cristiny é uma criança autista. O que para muitos é senão uma aberração moral, encaramos com naturalidade os fatos e por meio de relações amorosas, Núbia se tornou aquela que impulsionaríamos para a prática perpétua da aplicação do amor e afeto, para que encontrasse nessa prática sua interação social. Embora ainda há muito o que ser descoberto, a ser investigado e alcançado, sua disciplina para alguns aspectos são bastante valiosos e de uma funcionalidade exemplar.

Porém, o preconceito do grupo seleto do olhar “imbecil”, parece não querer aceitar a explicação para o que é autismo e continua com a aquela “velha opinião formada sobre tudo”. Explico: autismo não é birra, não é mania, não é falta de aplicação de métodos educacionais. É uma construção de valores que se adquire pelo meio da paciência, do respeito, do amor e afeto. Em sua interação com o mundo, suas ações são estritamente observadas, suas particularidades de querer copiar tudo aquilo que as pessoas ao redor fazem, não é problema particular, mas uma preservação de nortear os comportamentos próximo a ela, para que saiba oferecer abraço, carinho e autodisciplina, para as vivências imediatistas.

E Núbia não tem seu caráter sendo formado sem esses valores. Não há como negar que ainda existe as crises, cujos caminhos têm objetivos para contê-las. Contudo, o seu valor humano é espetacular. Outro dia, diante de um passeio em Gramado, foi possível observar com riqueza de detalhes, o quanto o universo do autismo é construído com a mesma participação. Diante de uma outra criança autista como ela, Núbia procurava dividir com a Larissa o –salgadinho, o sorvete – e no final, ao descer do carro, Larissa colheu uma flor e entregou para Núbia e ambas se abraçaram, sob fortes emoções da plateia que as assistiam. Não era a mesma plateia preconceituosa que não conhece o caminho do amor, mas pela plateia que entende que as pessoas ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam”.

*  o autor é escritor

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