Movimentos culturais nem sempre expressam a manifestação da cultura. Muitos movimentos culturais são realizados com alguma finalidade lucrativa, sem o verdadeiro intuito de promover o saber e a tradição de um povo. Essa falta de transversalidade da cultura emite ondas magnéticas de uma realidade alienada e de um povo que vive no mar morto da ignorância. E esse é o mar mais violento e sangrento de todos os tempos. Para esse mar, a massa desfila sem saber que há um interesse tenebroso por trás dessa falta de cultura e ideologia social.
Ávido pelo conhecimento, sempre busquei a informação por meio da relação com a leitura. E há tempo que tenho naturalizado com bibliotecas, como uma fonte original para realização do conhecimento. E na cidade onde resido atualmente, costumo fazer isso com mais eficácia sempre às segundas-feiras, quando estou livre para percorrer meus hábitos culturais. Atualmente, a falta de jornal na biblioteca municipal me fez questionar, saber a real carência desse pressuposto e fui orientado a buscar resposta no Poder Executivo. Na transferência de responsabilidades, disseram-me que teria que verificar na Secretaria de Educação. – Estaria andando como se fosse o único na contramão da história? – Diante de tantas informações eletrônicas, redes sociais, telejornais, porque insistir em querer apurar-se na antiga tradição de leitura em jornal?
O jornal não é uma verdade que mata a Verdade. Mas a indiferença, a obstinação para a miséria ignorância, sim! E foi essa realidade que meus olhos contemplaram naquela sala do “poder”. A atendente debochando do leitor que fora pedir informações e daquela sala, a responsável saiu com aquela expressão facial de “paisagem gentil” para afirmar que o poder Executivo não havia autorizado a renovação das assinaturas dos jornais. É! Há muitas instituições educacionais e culturais no Brasil que são verdadeiros cemitérios dos artistas.
Nessa odisseia rumo ao conhecimento e formação de opinião, já me tornei o “bobo da corte e deixei alguns reinos felizes”. Em uma ocasião, a política em exercício, boicotou o lançamento de um livro a intimar os funcionários públicos a estarem presente em uma reunião de puxa-saquismo, só porque queria o espaço que há tempo havia agendado para minha realização cultural. Em outra ocasião, o mesmo local nem sequer fora aberto para que pudesse realizar o lançamento de minha décima obra.
O que esses entraves fazem de mim? Um idiota ou um escritor obstinado? Não sei ao certo, mas a escrita para mim é de grande valia e por isso agonizo na hora da esperança, buscando patrocínio para lançar por uma editora de Portugal o meu décimo-primeiro livro. Editorialmente foi aclamado, pois não foi por falta de aprovação editorial que ele ainda não está editado. Mas o velho entrave do dia a dia da cultura brasileira, o faz percorrer as instituições editoriais apenas pela teoria. E onde encontrarei recursos? Certamente não será na linha de pensamento de uma instituição que faz secar a fonte da leitura. Lá, a burguesia parece enojada com o questionamento. Então, vamos celebrar essa nossa estupidez, agora; e deitamos em berço esplendido lembrando as glórias do passado, contando apenas as estórias e histórias que Machado de Assis, Graciliano Ramos, Eça de Queiroz, Clarice Lispector e José de Alencar fizeram, abrindo mão do presente e enterrando o futuro no mar morto da ignorância?
Se a ignorância é o mar mais sangrento e violento de todos os tempos, o melhor de tudo é correr às bancas e buscar o velho e bom jornal para o exercício da relação social com a leitura, porque isso também é cultura. Afinal, “quem sabe faz a hora, não espera acontecer". (Por Alex Magalhães. Escritor, formado em Serviço Social e autor de 10 livros)