Vovôs e vovós devem se lembrar dos famosos bilhetinhos de um político brasileiro. Longe de Whatsapp, Instagram e Twitter, os sexagenários devem se lembrar do meio preferido de comunicação do governador populista de São Paulo nos anos 50, Jânio da Silva Quadros.
O advogado e professor tornou-se presidente da República e depois renunciou, mas ganhou notoriedade por sua habilidade com a língua portuguesa e pelas frases de efeito publicadas pela imprensa.
Admirador de políticos de mesma estirpe, o prefeito Rômulo decidiu inovar em seu terceiro ano de mandato. Resolveu, temporariamente, abandonar o Facebook, o WhatsApp e o Twitter para enviar recados aos seus partidários e cargos de confiança. Usando pedaços de papel.
Se os bilhetes manuscritos do passado remetem a costumes dos tempos do guaraná com rolha, a própria ideia de um papel escrito à mão transforma alguém que se diz moderno e novo em um personagem conservador e burocrático.
Na sessão ordinária de segunda-feira, 21, um bilhetinho do prefeito circulou entre os vereadores da bancada governista. O intento era estabelecer qual obra da administração ficaria vinculada ao trabalho do vereador. Estaria falando das próximas reinaugurações? Ou do financiamento de R$ 26 milhões?
Essa espécie de leilão de benfeitorias é a antiga política do “é dando que se recebe”. Por outro lado, é um costume que deveria ter sido abolido por total falta de ética e desrespeito aos colegas de plenário.
Em tempos de tecnologia 5G, o recurso dos bilhetes é contrário à construção de uma imagem de suposta eficiência administrativa que o prefeito quer transmitir.
Para um homem público que se diz moderno, insistir que esse é o meio mais rápido e eficiente de contato com seus colaboradores esta longe de agradar o cidadão e longe de ter o efeito positivo na opinião pública.
Acatar ordens por bilhetinhos, quando se trata de cargo comissionado, talvez não seja imoral.
No poder, a ordem sempre vem de cima. Mas, ao menos, o prefeito poderia respeitar os vereadores.
Dada a má repercussão da distribuição de bilhetinhos, enviar instruções que espera ver cumpridas é, no mínimo, um retorno a uma velha política que está com os dias contados.







