Tendo em vista o desenrolar das investigações envolvendo a cobrança indevida de cirurgias bariátricas para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) no Paraná, amplamente noticiada nos veículos de comunicação nesta terça-feira (06), a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), informa que:
1. Reconhecemos a existência de uma enorme lacuna no acesso a cirurgia bariátrica pelo SUS no Brasil, onde a obesidade atinge mais de 40 milhões de pessoas, dos quais cerca de 13 milhões apresentam as formas graves da doença tendo na cirurgia bariátrica sua perspectiva mais eficaz de tratamento. E mais ainda, considerando que 75% da população tem no SUS sua única alternativa assistencial – e que em 2019 apenas 12.568 procedimentos foram realizados pelo SUS – constatamos e chamamos a atenção do poder público que apenas um em cada mil brasileiros com essa doença grave e limitante, consegue o tratamento que precisa;
2. Ressaltamos que a carência de alternativas conservadoras eficazes, aliada às severas implicações da obesidade sobre a saúde, qualidade de vida, longevidade e autoestima fazem com que pessoas, vítimas da ineficácia do sistema público, recorram a toda e qualquer alternativa que minimize seu sofrimento. Isso inclui se deslocar à outro estado para submeter-se a uma cirurgia, abrindo mão do acompanhamento multidisciplinar pós-operatório e do apoio de uma infraestrutura voltada ao cuidado integral;
3. A insensibilidade das agencias reguladoras da saúde em promover uma real democratização do tratamento da obesidade e das doenças metabólicas, negando o acesso a potentes ferramentas da medicina, faz com que o universo dos pacientes desesperados com as consequências da obesidade e doenças associadas a ela cresçam cada vez mais, deixando caminho aberto para oportunistas e atravessadores que exploram e mercantilizam o direito universal de acesso a saúde;
4. Acreditamos no poder das autoridades policiais e judiciárias em promover uma ampla e transparente investigação, colocando cada coisa no seu devido lugar, apurando com rigor e punindo os responsáveis. Nosso compromisso com a ética e a legalidade é inflexível e está à disposição da sociedade civil e dos órgãos oficiais para apoiar no que for necessário;
5. Esperamos que, além de apontar responsabilidades, exista a preocupação com os milhares de pacientes que vêm sendo operados a cada ano no estado do Paraná. Além disso, que haja responsabilidade com todas as outras pessoas que aguardam nas intermináveis filas de espera do SUS, e que em muitos lugares do país chegam a 5 anos de espera – e que com a pandemia aumentarão ainda mais se não houver intervenção pública – que precisam de uma alternativa segura e eficiente para conseguirem realizar suas cirurgias bariátricas e prolongar suas vidas com qualidade.
6. Aproveitamos para cobrar do Ministério da Saúde o compromisso assumido em abril de 2019 de ampliar o acesso a cirurgia bariátrica e metabólica, e viabilizar a cirurgia minimamente invasiva por videolaparoscopia pelo SUS, lembrando inclusive que, com a epidemia de COVID19, os serviços públicos da especialidade pararam, e as verbas que estão sendo repassadas às instituições hospitalares não tem sido equitativamente compartilhadas com os médicos sérios que se dedicam ao paciente público, trazendo o risco de extinção de muitos serviços, e de agravamento da cobertura assistencial do Sistema Público.
São Paulo, 06 de outubro de 2020
Marcos Leão Vilas Boas – Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM
Fonte: CERES TACIANA BATTISTELLI comunicore.com.br@enviosreleases.com