Alguns acontecimentos são pontos de inflexão pelo poder de moldar as feições do futuro da humanidade, como divisores de águas na história. A Reforma Protestante do século XVI é um deles, e por mais que pareça distante no tempo para as novas gerações, certamente a civilização não seria a mesma, se naquele distante 31 de outubro de 1517, o monge agostiniano Martinho Lutero não tivesse afixado suas 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg, na Alemanha.
Como aqueles questionamentos relacionados à teologia e à ética da Igreja medieval influenciaram tanto, em uma época na qual a comunicação de ideias não era tão fácil e rápida como as atuais postagens das redes sociais?
A inovação da imprensa com tipos móveis, que permitiu a Gutemberg imprimir a Bíblia em latim em 1455 foi o impulso à produção em massa de livros, ao invés de cópias manuais. O principal beneficiário acabaria sendo Lutero ao traduzir a Bíblia para o alemão em 1534, considerada como a obra responsável pela evolução da língua alemã moderna.
À medida que as ideias protestantes encontravam o solo fértil das insatisfações políticas, econômicas e sociais da Europa já influenciada pela renascença e com o surgimento dos estados nacionais, a experiência espiritual de Lutero, que destoava dos dogmas católicos romanos, galvanizou uma cultura moderna responsável por grandes transformações, a partir do questionamento da hegemonia romana sobre o mundo.
A educação foi o principal instrumento e campo de atuação para que outros reformadores como Melanchton e principalmente, João Calvino, o fundador da Academia de Genebra, na Suiça, estabelecesse a formação integral e ampla a crianças e jovens para a plena realização de suas vocações não religiosas, superando o paradigma da educação estritamente religiosa de então.
Com o passar dos tempos, em ambos os lados do Atlântico Norte, e posteriormente, também na América Latina e no Brasil, a visão protestante de educar o povo para não ser presa fácil da manipulação religiosa e ideológica de líderes astutos é indubitavelmente a grande contribuição da Reforma Protestante. As escolas, ao lado das igrejas, que missionários protestantes fundaram, forjaram a mente dos formadores de opinião nos diversos campos do conhecimento e nas várias áreas da sociedade desses países. As grandes universidades de Harvard e Yale, nos EUA, e a Universidade Presbiteriana Mackenzie, no Brasil, são os melhores exemplos de como educadores, cientistas e pesquisadores provam que protestantismo não combina com obscurantismo intelectual e alienação social.
Como se diria, é preciso voltar às origens – ad fontes – porque não há nada mais contemporâneo do que ser protestante, seja em 1517, seja em 2021.
*Rev. Dr. Robinson Grangeiro Monteiro é Chanceler do Instituto Presbiteriano Mackenzie. Doutor em Educação pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, mestre em Psicologia (Psicologia Social) pela Universidade Federal da Paraíba, e graduado em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Por Assessoria de Imprensa Instituto Presbiteriano Mackenzie – imprensa@mackenzie.br