Porto Ferreira “história em instantes”: a Construção da Matriz de São Sebastião – Parte Final

Em Porto Ferreira, na década de 50, desenvolveu-se um processo histórico que intitulei de “Onda de Progresso”. Trabalharei as características de forma geral, apenas citando-as, pois seus meandros constituiriam um livro completo.

HISTÓRIA, ECONOMIA E SOCIEDADE

Quando é feito um recorte temporal na História de uma determinada localidade, torna-se possível “tirar uma foto” e trabalhar suas peculiaridades.  Porto Ferreira passou, nos anos 50, um período de grandes transformações estruturais e sociais: ocorreu, a grosso modo, a transição da sociedade cafeeira, com suas principais lideranças, de economia focada na indústria da Cerâmica Vermelha, para a sociedade industrial, na qual despontaram inúmeras lideranças políticas, professores, formadores de opinião e industriais: Dr. ErlindoSalzano, Paschoal Salzano, Manoel da Silva Oliveira, Padre Octaviano AntonioPavesi, Flávio da Silva Oliveira, Professor João Teixeira, Professor Eugênio Colli, Professor Jadyr Salles, Mário Borelli Thomaz, Rubens Parada, Dionísio Fenili, Oswaldo da Cunha Leme, Joaquim Coelho Filho, Dr. Nicolau de Vergueiro Forjaz, SyrioIgnátios, PerondiIgínio, Agostinho Prada, para citar apenas alguns nomes e estarei cometendo algumas falhas na lembrança, que muitos ferreirenses certamente se lembrarão e poderão corrigir nos comentários.

Pois bem. Vamos lá! A sociedade pode ser dividida em estruturas socializantes: Família, Religião, Educação e ampla sociedade; estruturas econômicas: Industria, Comércio e Agricultura; e estrutura política administrativa: Governo e Infraestrutura da cidade.

No referido período, o município contava com 12.000 habitantes, dos quais 8.000 moravam na cidade e 4.000 no campo. Foram construídos o 2º Grupo Escolar (prédio da atual ETEC) e a Escola Artesanal – Industrial (Ambulatório Dr. Américo Montenegro).

Porto Ferreira possuía uma pequena zona rural. Desta forma, os líderes do progresso focaram, no começo do século XX, no desenvolvimento Industrial. O Dr. ErlindoSalzano, eleito Vice-Governador do Estado de São Paulo, foi o grande visionário de Porto Ferreira: desenvolveu a infraestrutura local, adaptando-a às necessidades econômicas brasileiras da década de 50, trazendo novas industrias, abrindo escola com cursos profissionalizantes, construindo loteamentos para atrair mão de obra e, principalmente, modificando o projeto original da Rodovia Anhanguera, gerando um desvio no seu traçado a partir de Limeira, para atender ao município, no momento em que o país abandonava o transporte ferroviário e investia nas rodovias,com a entrada do capital estrangeiro na economia brasileira, que não possuía uma acumulação primitiva de capitais para subsidiar o desenvolvimento industrial e tecnológico.

Segundo reportagem da Revista do Cinquentenário, em 1946, Porto Ferreira contava com: Uma grande fábrica de louça (Cerâmica Porto Ferreira), 1 fábrica de isoladores elétricos (Cerâmica São Luiz), 1 fábrica de mosaicos, 1 fábrica de brinquedos, 1 fábrica de móveis, 1 fábrica de cera para assoalhos e pasta para calçados, 1 usina de beneficiamento de algodão (Algodoeira Perondi), 3 máquinas de beneficiar arroz, 13 olarias, 1 lapidação de pedras preciosas,1 colchoaria, 1 torrefação de café, 4 moinhos de fubá, 2 oficinas mecânicas, 1 posto de refrigeração de leite (Nestlé), 3 empresas de exploração de areia e pedregulho, 3 oficinas de ferreiro, 2 oficinas de carpinteiro, 2 institutos de beleza, 1 médico e 2 dentistas. […] Conta o comércio com 3 farmácias, 7 lojas de fazendas, 9 armazéns de secos e molhados, 2 açougues, 3 padarias, 5 sorveterias, 4 alfaiatarias, 1 tipografia (Máximo Fenili), 3 leiterias, 12 bares e botequins, 6 barbearias, 1 selaria, 1 posto de gasolina, 2 sapatarias, 1 hotel e 1 pensão.

Já os dados do Conselho Nacional de Estatísticas, do ano de 1952, apontam a existência de trinta e cinco empresas em Porto Ferreira, das quais vinte e cinco pertenciam ao setor da indústria de transformação de minerais não metálicos, demonstrando a força do setor na economia local. Deste total, constam sete empresas localizadas na Chácara São José, próxima a estação de trem da Fepasa, das quais seis eram cerâmicas e uma pertencia ao setor de indústria extrativa – possivelmente dedicava-se à extração de argila das várzeas do rio Mogi Guaçu, matéria-prima da produção de tijolos.

Em 30 de novembro de 1950, em novo Processo Verbal de Visita Canônica, Porto Ferreira contava com uma população de 7.000 pessoas, das quais 900 ouviam regularmente as missas aos domingos. Havia 70 protestantes e 70 espíritas. Já existiam a Congregação Cristã do Brasil (apareceu em fonte histórica de 1933), a Assembleia de Deus Ministério Madureira (1945) e, provavelmente, mais alguma denominação protestante não observada. É perceptível que a construção de um novo templo católico se fazia necessário, já que na antiga Capela de São Sebastião cabiam, apenas, 200 almas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vale salientar, em primeira instância, que se trata de opinião pessoal de historiador, amparada nas fontes históricas. No Brasil, país constitucionalmente católico até a Proclamação da República (1889), é raro a existência de cidades com mais de um século de vida, que não se desenvolveram ao redor de uma capela. A Festa de São Sebastião é a tradição cultural mais antiga da cidade, seguida pelo Carnaval, Festa de Aniversário de Porto Ferreira (29 de Julho) e Comemorações Natalinas.

No ano de 1899, a simples Capela Curada – título oficial dado pela Igreja Católica às capelas ministradas – foi elevada à paróquia de São Sebastião de Porto Ferreira, recebendo, ao longo do tempo, inúmeras reformas, inclusive a construção de uma torre para os sinos.

Assim a comemoração dos 120 anos da Paróquia de São Sebastião de Porto Ferreira em 2012, provavelmente a comemoração cometeu um erro histórico, pois o Padre da época foi informado de forma verbal que a paróquia não havia sido criada em 1892, tratando-se de um erro histórico, cometido pelo Monsenhor Moysés da Costa Silva Nora, no seu Relatório de 1904. Portanto, a paróquia tem, hoje, 123 anos. É bom deixar isso bem claro antes que outro padre faça a comemoração dos 150 anos!

“Porto Ferreira – Devido aos esforços do sr. padre Paschoal Nicastri, foi elevado á categoria de parochia o curato de S. Sebastião de Porto Ferreira (sic) (Jornal “O ESTADO DE SÃO PAULO", 14/03/1899, Porto Ferreira, p.1.)

Monsenhor Moysés da Costa Silva Nora nasceu no dia 08 de janeiro de 1870, em Pizão, Freguesia de Catanhede, Bispado de Coimbra, Portugal. No ano de 1883, passou a freqüentar o Seminário de Coimbra, formando-se em Filosofia e Teologia em 1892. Por volta de 1902, veio para o Brasil, assumindo a paróquia de Porto Ferreira, onde permaneceu até 1906. Em seguida, tornou-se vigário da paróquia de Pirassununga, de 1906 até 1910. Trabalhou, também, em outras paróquias e, em 1932, Dom Francisco de Campos Barreto, bispo de Campinas, concedeu-lhe o título de Monsenhor.

Este padre brigou com Porto Ferreira e chamou o povo ferreirense de “cachorro” para o Bispo de Campinas, sendo acusado no jornal local de impedir outros padres de se instalarem em Porto Ferreira.

Isso mesmo! Porto Ferreira ficou vários anos sem padre graças às influências do Padre Moysés Nora com o Bispado de Campinas. (Consultar documentos da Cúria Metropolitana de Campinas). Porto Ferreira pertenceu à Diocese de Campinas de 1909 a 1975, quando foi criada a Diocese de Limeira.

A Construção da Igreja Matriz de São Sebastião é a obra mais grandiosa e demorada da História de Porto Ferreira – foram 12 anos, da qual participou a elite ferreirense, com exceção da família Salzano, que era espírita.

O início da construção pôde ocorrer graças à Dona Olimpya de Meireles Carvalho, mediante valiosa doação para a construção da igreja consignada em seu testamento, como também da Cia. Algodoeira Perondi e da Cerâmica Porto Ferreira.Grande parte dos materiais da construção eram provenientes do município. Diversas campanhas foram realizadas para concluir as etapas da construção. Até hoje, este procedimento é muito comum.

O Governo Municipal favoreceu a conclusão da obra, colocando diretamente recursos públicos, os quais, na época, não foram questionados, pois a maioria da sociedade se constituía de católicos, Hoje em dia, não há esse favorecimento direto, tendo em vista o rigor da lei e o crescimento de evangélicos, que são favorecidos com cargos comissionados no Governo Municipal, visando atrair o apoio destes grupos.

Dois nomes de relevância estiveram envolvidos na obra da Igreja: o arquiteto Benedicto Calixto de Jesus Neto – projetou a construção – e o bolonhês Antonio Maria Nardi pintou o Presbitério e a Capela do Santíssimo e, também, produziu os vitrais da Igreja.

O Padre Pavesi se tornou figura pública influente na década de 50, quando chegou em Porto Ferreira. A sua história é bastante peculiar, envolvida diretamente com o comunismo na década de 60. Brigou no jornal contra a construção da sede do Porto Ferreira Futebol Clube no centro, no começo daquela década. Foi voto vencido!

A relíquia de São Sebastião doada pelo Dr. Nicolau de Vergueiro Forjaz e esposa desapareceu, assim como o primeiro São Sebastião; gatunos e larápios do bem público existem em toda a História do Brasil, como também em Porto Ferreira!

Fotos da construção da Igreja Matriz de São Sebastião estão disponíveis no acervo do Museu Histórico e Pedagógico “Prof. Flávio da Silva Oliveira”. O ferreirense Miguel Bragioni possui uma filmagem do último casamento na antiga Capela de São Sebastião.

“Velha e querida de São Sebastião, levas para a eternidade nossa saudade, nosso sentimento mais nobre, o nosso palpitar do nosso coração, a emoção desse momento solene, pois foste o baluarte da fé, o farol a iluminar a estrada de nossa vida, guardiã intimorata dos mistérios da santa religião, durante os muitos lustros de tua existência. Tão singela, tão modesta, tão pequena, mas sentiste o rodar do tempo, e com ele a sucessão das gerações que em ti buscaram o refrigério e a paz tão necessários a alma.”  (Mário Borelli Thomaz)

Como dizia Nelson Rodrigues na coluna “A Vida Como Ela É”, do Jornal “A Última Hora”: “Como é possível que certos sentimentos e atos não exalem mau cheiro?”

Assistam ao vídeo sobre o artigo: https://www.youtube.com/watch?v=rPk27ZcClY4

REFERÊNCIAS:

https://museuportoferreira.blogspot.com/2015/07/a-via-anhanguera-e-nossa-parte-1.html

https://museuportoferreira.blogspot.com/2015/07/a-via-anhanguera-e-nossa-parte-2.html

https://museuportoferreira.blogspot.com/2018/05/a-historia-de-porto-ferreira-contida.html

https://museuportoferreira.blogspot.com/2020/02/o-algodao-na-fazenda-rio-corrente.html

https://museuportoferreira.blogspot.com/2020/01/assis-chateaubriand-o-rei-do-algodao-em.html

https://museuportoferreira.blogspot.com/2020/02/a-policultura-na-fazenda-rio-corrente.html

https://museuportoferreira.blogspot.com/2020/02/assis-chateaubriand-e-agricultura.html

https://abceram.org.br/2020/08/18/porto-ferreira-a-capital-da-ceramica-da-industria-oleira-a-ceramica-artistica/

ARNONI, F. F. História Social e Econômica de Porto Ferreira. Porto Ferreira: Editora Gráfica São Paulo, 2020.

COELHO, Miguel Bragioni Lima & ARNONI, Renan F. F. Aspectos Históricos de Porto Ferreira.Vol.II. Porto Ferreira: Editora Gráfica São Paulo, 2013.

NORA, Moysés. Relatório da freguezia de Porto Ferreira. São Paulo: Typographia Andrade & Mello, 1904. Disponível em: Museu Histórico e Pedagógico “Prof. Flávio da Silva Oliveira”

REVISTA DO CINQUENTENÁRIO DE PORTO FERREIRA. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/12RNX5rJ6-zmrAly5dAdYRcWFisYKL5_6/view?usp=sharing

Revista do Padre Moysés Nora. Disponível em:

https://drive.google.com/file/d/15ehPjrYJwpC96bJPqi7CQTjpThdbvSMI/view?usp=sharing

Foto de Moysés Nora: https://drive.google.com/file/d/1KqCSOq6AQxzACpQ3p-zjLDm8tiNjasvy/view?usp=sharing

* Renan Arnoni – Historiador (UNESP – Franca);Pós-Grduação em Gestão Cultural;Especialização em Análise Comportamental, Programação Neurolinguística e Constelação Sistêmica Familiar; Servidor Público (Prefeitura Municipal de Porto Ferreira) e Empresário.

* Renan Arnoni – Historiador (Unesp – Franca), Gestor Cultural (SENAC), Analista Comportamental (Especialização), servidor público (Prefeitura Municipal de Porto Ferreira) e Empresário.

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