O projeto de integração energética anunciado pelos governos do Brasil e Argentina esta semana, durante a visita do presidente Lula a Buenos Aires, promete trazer para o mercado brasileiro um gás natural barato.
As pretensões dos dois países vizinhos guardam, ao mesmo tempo, desafios para que se consiga casar a demanda daqui com a oferta de lá — e, assim, colocar o projeto de pé. Mas afinal, faz sentido essa aproximação entre Lula e Alberto Fernández no gás?
A gas week apresenta, a seguir, algumas perguntas e respostas — e perguntas sem respostas — sobre o assunto.
Como casar a oferta argentina com a demanda brasileira?
As conversas entre Argentina e Brasil são incipientes e ainda falta clareza sobre que volume poderá ser, de fato, exportado pelos hermanos.
O que se sabe é que essa oferta, muito provavelmente, não será firme, porque a demanda argentina é altamente sazonal: maior no inverno, para suprir a calefação. A tendência, portanto, é que só haja excedentes significativos para exportação no verão.
E uma oferta sazonal dificulta a viabilidade econômica de novos gasodutos. “Não há, nesse caso, um casamento perfeito”, avalia o CEO da Gas Energy, Rivaldo Moreira Neto.
Ele cita o perfil de consumo firme da indústria no Brasil. E não crê que o gás argentino substituirá o GNL, já que as termelétricas operam mais no período seco, fora do verão.
O gás argentino vale a pena?
O governo argentino diz que tem condições de entregar ao Brasil um gás mais barato que o boliviano — vendido entre US$ 6 e US$ 7 o milhão de BTU, na fronteira.
Em dezembro, no leilão de oferta promovido pelo governo argentino, os produtores ofereceram um preço médio inferior a US$ 4 o milhão de BTU.
Para efeitos de comparação, os preços da Petrobras, nos contratos mais recentes com as distribuidoras, estão um pouco abaixo dos US$ 18 o milhão de BTU.
Na avaliação de Ieda Gomes, da Oxford Institute for Energy Studies, a grande dúvida é quanto a Argentina vai cobrar pelo uso da capacidade de sua infraestrutura.
E confiabilidade: ela lembra que o país vizinho possui uma cultura de controle de preços que, no passado, levou a produção local ao declínio — e culminou, nos anos 2000, na interrupção do fornecimento ao Chile e ao próprio Brasil.
Quem pode se interessar pelo gás argentino?
Para o analista de gás e energia da Wood Mackenzie para América Latina, Henrique dos Anjos, importar o gás argentino pode fazer sentido para determinados agentes que tenham acesso a terminais de regaseificação e, com isso, consigam compor um portfólio: no verão, gás da Argentina a preços mais baixos e, no inverno, GNL.
Na avaliação da diretora de gás do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Sylvie D’Apote, a multiplicidade de fontes é sempre positiva para consumidor.
O Sul do Brasil também possui uma demanda reprimida. Ela ressalva, contudo, que a conexão à Argentina demandará investimentos pesados. E o comprador (ou compradores) vai ter que assumir riscos associados a contratos longos.
“Mas se esse gás conseguir chegar ao Brasil de maneira econômica, ele será escolhido: alguém assinará o contrato”.
Assista na íntegra ao antessala epbr: Brasil tem a ganhar com a integração energética latino-americana?
*Fonte: epbr.com.br