Terrorismo é slogan que sempre se prestou a justificar a política externa dos EUA
Divulgado em 19/11/2023 - 12:00 por Nadir Mazloum* **
O escritor francês Louis Jacob, ao estudar a repressão jacobina durante a Revolução Francesa, demonstrou que existe um método muito útil para o Estado coonestar as suas mais abomináveis atrocidades: o slogan.
O slogan é algo destituído de conteúdo, mas com forte conotação pejorativa, que logo suscita as paixões partidárias mais ferrenhas. Em alguns casos, o seu propósito é suscitar o medo.
Com rótulos impactantes e chavões repetidos ad nauseam, consegue-se incutir na sociedade a necessidade não apenas da repressão estatal, mas da repressão implacável e impiedosa.
O terrorismo é um slogan que sempre se prestou a justificar a desprezível política externa norte-americana. “Uma política externa que endossa intervenção e ocupação mundiais”, denuncia o ex-senador norte-americano Ron Paul, “requer que o povo viva em perpétuo medo de supostos inimigos”.
Ter um inimigo perpétuo é fundamental justificar a repressão estatal, interna e externamente. Entender o terrorismo, ou aquilo que se rotula como terrorismo, exige muito mais do que essa análise tosca e maniqueísta que procura atribuir aos povos árabes e de religião muçulmana a eterna condição de vilões.
“Se quisermos por fim à violência”, pondera Ron Paulo, “é certo que devemos procurar saber o que deu origem a ela, especialmente se a violência é de natureza política.”
O judicioso Locke foi quem, com precisão cirúrgica, conseguiu entender esse tipo de violência, cuja origem não é senão a própria repressão do Estado. Diz o filósofo inglês, com uma linha de raciocínio impecável:
Governos justos e moderados são por toda parte tranquilos, por toda parte seguros. Mas a opressão fermenta, e faz os homens lutarem para se livrar de um jugo incômodo e tirânico. Sei que sedições são frequentemente levantadas usando a religião como pretexto, mas isso é tão verdadeiro quanto o fato de que, por causa da religião, os súditos são muitas vezes maltratados, vivendo de forma miserável.
Creia-me, as agitações que se produzem não derivam de um ânimo peculiar desta ou daquela igreja, mas da disposição comum a toda a humanidade, quando está a grunhir sob um grande peso, de tentar naturalmente se livrar do jugo que pesa sobre seu pescoço.
Suponha-se que esses negócios de religião fossem deixados de lado e que alguma outra distinção fosse feita entre os homens, baseada em suas compleições, formas e feições, de modo que, como exemplo, aqueles que têm cabelos pretos ou olhos cinzentos não tivessem os mesmos privilégios de outros cidadãos, que a eles não fosse permitido comprar ou vender ou ganhar a vida por sua profissão, que os pais não tivessem direito de governar e educar seus filhos, que vivessem excluídos dos benefícios da lei ou então só encontrassem juízes parciais: há alguma dúvida de que essas pessoas, discriminadas das outras pela cor de seus cabelos e olhos e unidas por uma perseguição comum, seriam tão perigosas para o magistrado como aquelas que se associam simplesmente por causa da religião?
Alguns procuram companhia para negócios e lucros, já outros, na falta do que fazer, têm seus clubes, onde bebem vinho. A vizinhança reúne alguns, a religião outros. Mas há somente uma coisa que junta as pessoas em comoções sediciosas, e esta coisa é a opressão. [5]
Se um Estado conduz e mantém uma política, interna e/ou externa, de perseguição e supressão de direitos contra um determinado grupo de pessoas, escolhendo uma determinada característica que essas pessoas têm em comum como critério de perseguição, então essa própria condição que elas têm em comum tornará o motivo da união delas em “grupos sediciosos”.
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*Nadir Mazloum - é sócio do escritório Casem & Nadir Mazloum Advocacia.
**Fonte: www.conjur.com.br