A ORIGEM DE UMA CULTURA CARNAVALESCA EM PORTO FERREIRA – Final

Divulgado em 11/02/2024 - 08:00 por Renan Arnoni*

Na primeira parte desta série de artigos sobre o carnaval, foi citado que os instrumentos de percussão carnavalescos têm uma inspiração africana, assim como o samba, e as marchas foram de certa forma uma imposição de Getúlio Vargas. Mas, cabe aqui, outro tipo de análise.

Os tambores eram considerados as vozes das divindades, cada uma associada a um ritmo característico. [...]O argumento central deste capítulo é que essas práticas religiosas deram uma importante contribuição aos carnavais afro-americanos.

O lugar dos tambores nesses carnavais é fundamental. [...] As danças do candomblé são às vezes comparadas ao samba do carnaval. [...] Na verdade a excitação e a exaltação do Carnaval, as “vibrações” como as chamam os brasileiros, são uma forma de êxtase religioso. (BURKE, 2000)

Por meio das análises históricas culturais de Burke (2000), pode-se deduzir que a bateria no carnaval de rua ferreirense, associada à bebida alcoólica, cria um clima semelhante ao êxtase religioso, tornando-o atrativo e sedutor para os participantes se “libertarem” das regras sociais e fugirem da realidade.

O pega do boi, talvez, seja o elemento central da popularização do boi em Porto Ferreira e, também, da violência. Imagine um boi que só gingasse e fosse manso. Consegues? O boi tem que pegar!

O risco-aventura tem o perigo como o motor da ação, levando a pessoa a submeter-se a “desafios consideráveis às habilidades que poderiam gerar consequências pessoais graves (especialmente a morte) no caso de erro” (SPINK, 2012).

Estar diante da possibilidade de levar uma chifrada é um enfrentamento da morte, trazendo uma busca de significado pela vida. Em Pamplona, segundo Gregori (2013), “o confronto homem-touro trata-se de uma exaltação ao animal símbolo máximo da Espanha. [...]o objetivo de cada um dos “encierros" é correr com o touro (e não dele) pelas estreitas ruas do Centro e desfrutar da adrenalina desta experiência única”.

O termo “adrenalina” foi diversas vezes utilizado para identificar esses momentos de exacerbação dos sentidos e emoções, em desafios necessários para alcançar determinados ganhos (SPINK et al., 2008), o próprio risco torna-se motor para a ação, uma vez que a sensação obtida é parte dos resultados almejados (GOMES; COLAÇO, 2016).

A adrenalina, diante do risco da morte, leva a um questionamento sobre o sentido da vida humana. De certa maneira, há uma reflexão individual sobre os hábitos.

Logo, se a pessoa busca um comportamento de fuga da realidade é porque a mesma realidade não é suficiente para preenchê-la. E o carnaval aparece como alternativa dentro da estrutura histórico cultural da sociedade. 

Um último fator social histórico a ser enfatizado é o aparecimento de novos blocos de boi, resultantes de um processo de expansão da cultura popular. O Bloco do Boi (1934), o Bloco da Vaca (1975), o Bloco do Boi Infanto Juvenil (1975), o Bloco do Boi Inimigo Meu (1989), e muitos outros permitiram o aumento do número de participantes no Carnaval dando capilaridade ao aspecto cultural, tanto para os diretamente envolvidos quanto para os expectadores.

CONCLUSÕES

O boi, da forma como é conhecido em Porto Ferreira, foi adaptado para o Brasil de Pamplona (Espanha) por Artur Nogueira.

As características mais importantes do carnaval de rua estão centralizadas pega do boi, que gera adrenalina e violência, na música e no consumo de bebidas alcoólicas. Sem esses elementos, provavelmente, o boi morrerá.

* Renan Arnoni: Bacharel e Licenciado em História- UNESP, Pós-Graduado em "Gestão Cultural - cultura, desenvolvimento e mercado”  e  Analista Comportamental. Coautor do livro “Aspectos Históricos de Porto Ferreira” – volume II (2013); autor do livro História Social e Econômica de Porto Ferreira (2020). Pesquisador Digital Influencer e Produtor Cultural.