Governo Federal enfrenta ofensiva do sistema financeiro e da elite política aliada ao Centrão para reduzir gastos sociais, limitar reajustes salariais e preservar benefícios fiscais das camadas mais ricas, aprofundando a desigualdade no Brasil
O Governo Federal está no centro de uma crescente pressão do mercado financeiro e de setores influentes do Congresso Nacional, sobretudo dos partidos que compõem o Centrão ( PP, Republicanos, União Brasil, PSD e MDB ), para adotar uma série de medidas de austeridade que atingem diretamente a população mais pobre e vulnerável do país. As propostas, que ganham força em meio às discussões sobre o equilíbrio fiscal e a reforma tributária, miram cortes em áreas sociais estratégicas, enquanto mantêm intocados os privilégios das classes mais ricas e das grandes empresas.
Entre as principais exigências está o congelamento dos reajustes do salário mínimo acima da inflação, o que significa, na prática, eliminar qualquer ganho real para trabalhadores que dependem dessa renda básica. Além disso, há movimentações para desvincular o reajuste do salário mínimo do cálculo das aposentadorias e pensões, o que pode levar à estagnação dos rendimentos de milhões de aposentados e pensionistas do INSS.
Outro ponto crítico é a tentativa de reduzir o número de beneficiários e o valor dos repasses do Benefício de Prestação Continuada (BPC), destinado a idosos e pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade. Simultaneamente, discute-se a desvinculação de receitas para áreas como Educação e Saúde, o que abriria caminho para a diminuição dos investimentos públicos nesses setores essenciais.
Embora essas medidas afetem profundamente a parcela mais pobre da população, em nenhum momento os setores que articulam essa agenda propõem uma revisão da carga tributária sobre os mais ricos ou o fim de isenções que favorecem grandes fortunas e empresas. Pelo contrário, há forte resistência a qualquer proposta que inclua taxação de dividendos, lucros ou grandes heranças. Incentivos e subsídios bilionários seguem preservados para conglomerados empresariais, mesmo diante do crescente rombo nas contas públicas.
Essa postura revela uma clara assimetria na formulação das políticas econômicas: enquanto o ajuste fiscal recai sobre os ombros dos mais pobres, os mais ricos continuam protegidos por um sistema que perpetua a desigualdade estrutural no país. Especialistas alertam que, além de socialmente injustas, essas medidas podem comprometer o crescimento econômico, ao reduzir o poder de consumo das camadas populares e estrangular serviços essenciais.
Em meio ao debate, o governo tenta equilibrar os compromissos com a responsabilidade fiscal e a necessidade de manter políticas públicas que garantam dignidade à maioria da população. No entanto, a força do lobby empresarial e do Centrão impõe limites cada vez mais rígidos à manutenção de uma agenda social robusta.
A disputa em curso no Congresso e nos bastidores do Planalto não é apenas técnica ou fiscal: trata-se de uma escolha política sobre quem vai pagar a conta da crise. E, até agora, tudo indica que essa conta continuará sendo repassada à população mais pobre — enquanto os mais ricos seguem blindados por um sistema que lhes serve com zelo.
*Fontes: UOL – Carta Capital – DW