A urgência de uma reforma legislativa séria, que enfrente os privilégios e busque eficiência, transparência e austeridade, nunca foi tão urgente.
Enquanto o Brasil enfrenta crises fiscais recorrentes, cortes em áreas essenciais e níveis alarmantes de desigualdade social, a Câmara dos Deputados Federais ostenta um dos parlamentos mais caros e inchados do planeta.
Um levantamento da Inter-Parliamentary Union, ajustado por paridade de poder de compra (PPP), escancara o abismo entre a estrutura do Legislativo brasileiro e a de países mais ricos e desenvolvidos.
A comparação é incômoda: o Brasil emprega 14.001 servidores na Câmara, número 50% superior ao dos Estados Unidos, cuja população é mais de 50% maior. A pergunta que se impõe é simples e urgente: por que tantos funcionários?
A resposta parece não estar no aumento de produtividade legislativa — mas sim em um modelo de poder acostumado ao excesso. A estrutura revela uma burocracia inflada, que consome recursos em ritmo incompatível com a dura realidade da população brasileira.
O orçamento anual da Câmara dos Deputados é outro retrato do descompasso: US$ 3,19 bilhões. Isso representa 71% a mais que os Estados Unidos (US$ 1,85 bi), e quase quatro vezes mais que a França (US$ 0,86 bi). É mais do que gastam a Alemanha, a Itália e o Reino Unido — países que, além de serem mais ricos, também operam sistemas legislativos complexos. No Brasil, esse custo elevado gera pouca contrapartida em qualidade institucional ou efetividade parlamentar.
E se o tamanho da estrutura impressiona, o valor dos salários escandaliza: um deputado federal brasileiro recebe, por ano, US$ 221.911 — o segundo maior valor entre os países analisados, atrás apenas da Turquia. O salário é superior ao pago por democracias consolidadas e com altíssimos índices de desenvolvimento humano, como Itália, Singapura e Chile.
Essa realidade não é apenas um problema de custo — é um sintoma de uma cultura política desconectada das necessidades da maioria da população. A manutenção dessa máquina cara e ineficiente é feita com recursos públicos que poderiam, em outra configuração, ser destinados à saúde, educação, segurança e programas sociais.
O contraste com a pobreza, a desigualdade e o sucateamento de serviços básicos no Brasil torna o caso ainda mais revoltante. Enquanto milhões lutam para sobreviver com o mínimo, o parlamento opera em meio ao luxo institucional.
A urgência de uma reforma legislativa séria, que enfrente os privilégios e busque eficiência, transparência e austeridade, nunca foi tão clara. Se o Brasil quer se aproximar de democracias maduras, precisa começar por cortar os excessos que hoje fazem da sua Câmara dos Deputados Federais uma das mais caras — e menos justificáveis — do mundo.
*Fonte: paulogala