Inspirado no NHS britânico, o Sistema Único de Saúde brasileiro ganha destaque internacional por sua capilaridade, estratégias comunitárias e universalidade — e começa a ser replicado em projetos no próprio Reino Unido
O que começou como uma busca por aprendizado no exterior transformou-se em um surpreendente reconhecimento da excelência brasileira. A médica Maitê Gadelha, paraense de 29 anos, partiu para o Reino Unido com o desejo de estudar o modelo de saúde pública britânico, mas encontrou, na Universidade de Edimburgo, algo inesperado: o SUS — o Sistema Único de Saúde do Brasil — sendo citado como exemplo de boas práticas em saúde pública.
Criado no fim dos anos 1980 com base no Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS), o SUS vem ganhando respeito acadêmico e institucional no Reino Unido por suas estratégias inovadoras, como a Estratégia Saúde da Família, que mobiliza agentes comunitários em visitas domiciliares para o cuidado preventivo e acompanhamento contínuo das populações.
Durante a pandemia, a médica percorreu comunidades ribeirinhas e quilombolas no Pará com uma clínica itinerante, atuou no Rio de Janeiro em áreas periféricas e, após concluir residência em Medicina da Família e um MBA em São Paulo, foi para a Escócia com bolsa de estudos. Lá, presenciou o reconhecimento crescente ao modelo brasileiro, principalmente por sua universalidade, alcance territorial e a capacidade de oferecer serviços sem cobrança direta à população.
Segundo Gadelha, há também admiração pelo modelo de parcerias público-privadas adotado pelo SUS — algo que o NHS começou a implantar apenas recentemente, para reduzir filas e acelerar diagnósticos. Ela destaca que, mesmo diante de um território continental e grandes desigualdades, o SUS consegue atuar com efetividade em locais remotos, algo que surpreende estudantes e pesquisadores estrangeiros.
Mas o Brasil também tem lições a aprender. Entre os pontos de atenção, Gadelha cita a comunicação pública deficiente durante a pandemia e a necessidade urgente de educação continuada para os profissionais do SUS. A médica também sugere a desburocratização das rotinas clínicas para liberar os profissionais de saúde da sobrecarga administrativa.
A história de Maitê Gadelha simboliza uma inversão de papéis no campo da saúde pública global: se um dia o Brasil se espelhou no modelo britânico, agora é o mundo que começa a olhar para o SUS como uma referência internacional de equidade e inovação.
*Fonte: www1.folha.uol.com.br