A correspondência do presidente estadunidense a Lula revela um complexo jogo geopolítico com o agronegócio brasileiro como principal refém.
Uma carta enviada pelo presidente dos EUA – Donald Trump ao presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva, na qual o presidente estadunidense manifesta apoio a Jair Bolsonaro e sinaliza a intenção de taxar as exportações brasileiras, transcende o mero gesto de amizade.
A correspondência é um alerta geopolítico com potencial impacto real no agronegócio brasileiro e na relação comercial com os Estados Unidos. O episódio, que mistura política interna americana e brasileira com interesses econômicos e geopolíticos, coloca em evidência quem são os atores principais, quem pode pagar a conta das tarifas e como big techs e o grupo BRICS se inserem nesse cenário.
O teatro geopolítico de Trump – a carta de Trump a Lula se configura como uma intrincada peça de teatro geopolítico. O verdadeiro foco de Trump é reforçar seu papel como defensor da “liberdade de expressão” — em uma clara alusão às ações do Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro — e do produtor americano, em detrimento do agronegócio brasileiro. Internamente nos EUA, essa estratégia visa alimentar a base MAGA (Make America Great Again), reafirmando o discurso de que Trump protege os agricultores e as big techs americanas.
BRICS e Big Techs – a correspondência de Trump é um amálgama de temas, porém a parte mais crucial da carta, no entanto, é o ataque ao Supremo Tribunal Federal brasileiro, com a menção a “ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS“. Este ponto não é aleatório; ele cria um precedente para proteger as big techs americanas, que atualmente estão sob a mira de regulamentações e ordens judiciais no Brasil.
Além disso, o Brasil surge como um bode expiatório para enviar uma mensagem clara aos membros do BRICS — Rússia, China, Índia e África do Sul. O receio de Trump é que esses países formem um bloco independente dos EUA e da Europa, e, pior, que desvinculem suas transações do dólar americano, ameaçando a hegemonia da moeda.
Questão puramente econômica – a carta é explícita, a retirada ou modulação das tarifas dependerá de três fatores:
- a abertura do mercado brasileiro (redução de tarifas e barreiras),
- a permissão para que empresas brasileiras construam fábricas dentro dos EUA,
- e o fim dos “ataques” às empresas digitais americanas.
A pressão real exercida por Trump é de natureza econômica, com foco nas big techs e na posição geopolítica do Brasil, especialmente em relação ao BRICS.
Agronegócio – o agronegócio brasileiro será o mais impactado com “as tarifas de Trump“. O grosso da pauta de exportações entre Brasil e EUA é composto por commodities agrícolas como soja, carne, milho, açúcar e café. Esses produtos, por sua natureza, não podem absorver um aumento de 50% nos preços sem perder competitividade no mercado internacional.
Assim, o agronegócio se torna o grande pagador da conta, embora não seja explicitamente citado na carta. Essa omissão é estrategicamente política, pois Trump evita ser visto como inimigo declarado do “grande celeiro do mundo”. A situação se configura como uma chantagem econômica disfarçada de guerra política.
Ao não mencionar o agronegócio diretamente, Trump evita uma reação imediata do setor. A expectativa é que o próprio agronegócio “se toque” de que está financiando o “teatro” que envolve política interna, as big techs e o BRICS.
A carta de Trump a Lula é mais do que um recado pessoal; é um movimento estratégico no tabuleiro global, que coloca o Brasil, e em especial seu agronegócio, em uma posição delicada.
*Fonte: TixaNews –