Sob o governo Milei, setores de luxo prosperam com câmbio forte, mas restaurantes, hotéis e comércio sofrem com queda no poder de compra da maioria.
Na Argentina de Javier Milei, a economia apresenta um cenário de contrastes brutais. Enquanto concessionárias de carros de luxo e o mercado imobiliário batem recordes, restaurantes, hotéis e pequenos comércios enfrentam crise sem precedentes.
Essa dualidade reflete os efeitos desiguais da política econômica do presidente libertário, que, aos poucos, redefine os rumos do país três meses antes das eleições parlamentares de meio de mandato.
A valorização do peso, uma das bandeiras de Milei, trouxe queda na inflação e reativou o crédito imobiliário, beneficiando principalmente os argentinos com maior poder aquisitivo. As vendas de automóveis importados, como Porsche e BMW, mais que dobraram, e o setor imobiliário na Grande Buenos Aires cresceu 50% até maio. Companhias aéreas como Delta e American Airlines ampliaram voos para atender à alta demanda por viagens internacionais.
No entanto, para a maioria da população, a realidade é outra. Com salários corroídos pela inflação e desemprego em alta, 60% dos argentinos preveem cortes ainda maiores no consumo, segundo pesquisa da AtlasIntel. Mais de 50% das famílias reduziram gastos com alimentação e lazer, segundo a consultoria Management & Fit.
O governo atribui a recuperação econômica às medidas pró-mercado, como a liberalização de importações e o fim do câmbio controlado. O câmbio fixo explica parte do fenômeno, pois segurou a inflação, mas encareceu serviços locais e penalizou os mais pobres pois os preços subiram em dólares. A Argentina está muito cara para a maioria da população. Os hotéis operam com apenas 43% de ocupação, e lojas fechadas na capital portenha atingiram o maior número desde 2022.
Apesar do otimismo nos setores de alto luxo, o descontentamento popular cresce. Milei mantém alta aprovação graças ao controle da inflação, mas a perspectiva de estagnação econômica em 2025 e o aumento da pobreza podem testar sua base eleitoral.
Nesse cenário, a pergunta que paira no ar é: até quando a Argentina de Milei conseguirá sustentar duas economias tão distintas dentro do mesmo país?