A ilusão do fim da cracolândia em São Paulo, várias “mini cracolândias” infestam a capital paulista

Após a dispersão do antigo epicentro do uso de crack, o problema se fragmentou: usuários agora ocupam ruas e praças do centro expandido, em pequenas aglomerações, longe dos olhos, mas não dos riscos.

Pouco mais de dois meses após a operação que esvaziou a principal concentração de usuários de crack da capital paulista, na esquina das ruas dos Gusmões e dos Protestantes, o que se vê é uma nova e silenciosa expansão do problema.

A repressão policial desmobilizou a cena aberta de uso naquele ponto, mas não solucionou a questão: criou, na prática, diversas “mini Cracolândias” espalhadas pelo centro expandido de São Paulo.

A principal concentração atual se dá nas imediações da Praça Marechal Deodoro, onde dezenas de dependentes químicos ocupam o entorno da Rua das Palmeiras. Não raro, parte do grupo também se abriga sob o Elevado Presidente João Goulart, o Minhocão. Um novo fluxo também começa a tomar forma próximo à comunidade do Gato, na Marginal Tietê, em um cenário já conhecido: pessoas sentadas no chão, consumindo drogas em público.

Apesar de estar a poucos metros de uma base fixa da Polícia Militar instalada em 28 de maio, na tentativa de evitar nova concentração massiva, o problema persiste.

O vice-governador Felicio Ramuth (PSD), responsável pelas ações estaduais sobre o tema, insiste em que não há nada semelhante à antiga Cracolândia. “Não existe nenhuma concentração que possa se assemelhar ao que já foi um dia a Cracolândia”, afirma.

Já a Polícia Militar recusa o termo “migração do fluxo”, negando qualquer aumento relevante no número de usuários em novas regiões. Mas a realidade nas ruas contradiz o discurso oficial.

Segundo dados da Prefeitura, entre maio e julho, a região da Luz ainda registrou uma média de 134 usuários durante o dia e 113 à noite. Apesar de números inferiores ao trimestre anterior, a presença continua significativa.

Outros pontos como a Praça Princesa Isabel, Rua Helvetia, Avenida Duque de Caxias e Alameda Glete também seguem como focos de consumo de crack, ainda que em menor escala.

A pulverização da cena de uso de drogas pode parecer uma vitória momentânea para as autoridades, mas representa uma derrota silenciosa para a cidade. Ao invés de atacar as causas da dependência, o poder público apenas embaralha os sintomas: desloca o problema de um lugar para outro, como se o crack obedecesse a fronteiras policiais.

Enquanto isso, quase 32 mil pessoas vivem nas ruas da capital, segundo o último censo municipal. Entre elas, muitas enfrentam o duplo desafio da pobreza extrema e da dependência química. As ações do chamado Hub de Atendimento e dos 1.600 agentes da Saúde e da Assistência Social, embora importantes, ainda são incapazes de dar conta da complexidade e da urgência do problema.

A ilusão de que o fim da Cracolândia representaria o fim do crack em São Paulo se desfaz a cada esquina. O que se vê hoje é a multiplicação de pequenas tragédias urbanas, diluídas em pontos diversos da cidade. Fragmentadas, menos visíveis, mas ainda dolorosamente reais.

Fonte: Estadão

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