Margens de lucro da revenda quase dobraram desde 2021, enquanto milhões de motoristas continuam pagando mais do que deveriam pelo litro de gasolina
Apesar das sucessivas reduções anunciadas pela Petrobras no preço da gasolina nas refinarias, o alívio não tem chegado às bombas. Postos de combustíveis em todo o Brasil vêm mantendo margens de lucro historicamente elevadas, deixando o consumidor sem benefício real e acumulando um prejuízo bilionário para a população.
Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostram que, entre janeiro de 2021 e junho de 2025, a margem média de revenda da gasolina comum subiu 97%, contra uma inflação oficial de 31% no período. No diesel, a alta foi de 89%, e no gás de cozinha, de 58%. Isso significa que, em vez de repassar integralmente as quedas de preços nas refinarias, postos e distribuidoras aumentaram a diferença entre o que pagam e o que cobram dos consumidores.
Se as margens tivessem apenas acompanhado a inflação, o litro da gasolina estaria, em média, R$ 0,30 mais barato. No diesel, a diferença seria de R$ 0,25, e no botijão de 13 kg, cerca de R$ 5. Pequenas variações na bomba se transformam em cifras enormes: cálculo do economista Eric Gil Dantas, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), aponta que apenas no estado de São Paulo as famílias pagaram R$ 2,8 bilhões a mais em 2024 por gasolina, diesel e gás devido à elevação das margens.
O cenário se agravou em um período marcado por volatilidade de preços, mudanças tributárias e impacto de eventos internacionais. Mas, segundo especialistas, a situação também reflete um movimento deliberado do setor para ampliar lucros.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já criticou publicamente o setor, afirmando em fevereiro que a população vem sendo “assaltada” por muitos donos de postos de combustíveis, pois esses – quando sai notícia de reajuste por parte da Petrobrás aumentam instantaneamente os preços da gasolina, porém quando a empresa promove redução, essa nunca chega na proporção devida ao bolso dos consumidores”.
Mesmo com a pressão política, o movimento não cede. De janeiro a junho deste ano, a margem da gasolina subiu mais 13%, e a do diesel, 32%, enquanto a inflação no período ficou em 2,99%. Já a margem do gás se manteve estável.
Segundo a ANP, a formação de preços no setor é livre desde 2002 e cabe ao mercado definir valores. Para o consumidor, porém, a consequência é clara: os cortes de preços na Petrobras ficam pelo caminho, e a bomba continua pesando no bolso.
Fonte: Folha de S.Paulo