Polícia Federal fez busca e apreensão e impõe restrições; mensagens indicam tentativa de usar o “tarifaço” dos EUA como pressão por anistia.
A Polícia Federal (PF) cumpriu, na noite de quarta-feira, 20 de agosto de 2025, mandado de busca pessoal e apreensão de celular contra o pastor Silas Malafaia no Aeroporto do Galeão (RJ), por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão também proibiu o pastor de sair do país (com cancelamento do passaporte) e de se comunicar com outros investigados dos casos relativos à tentativa de golpe de Estado. A medida ocorre no bojo de inquérito que apura coação no curso do processo e obstrução de Justiça atribuídas ao entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Segundo a decisão de Moraes, fortes indícios emergiram de trocas de mensagens entre Jair Bolsonaro e Silas Malafaia a partir de 9 de julho de 2025, data em que o governo dos Estados Unidos anunciou tarifas de 50% sobre importações do Brasil e outras retaliações. Para a PF, os diálogos mostram Malafaia atuando de forma consciente e coordenada com Bolsonaro “na definição de estratégias de coação e difusão de narrativas inverídicas”, com o objetivo de pressionar ministros do STF e influenciar decisões judiciais. Agência Brasil
Em trechos descritos pela imprensa, Malafaia teria sugerido a Bolsonaro vincular o fim do “tarifaço” e a não sanção a ministros brasileiros nos EUA à aprovação de uma anistia ampla, argumento que, para os investigadores, revelaria uma estratégia de pressão sobre o Judiciário. A PF vê o pastor em papel de liderança em ações de coação e na construção de campanha orquestrada de ataques a ministros do STF em ambiente digital.
Enquanto Jair Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro foram indiciados pela PF pelos crimes de coação no curso do processo e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, Silas Malafaia, até o momento, não foi indiciado. Ele é alvo de medidas cautelares e segue investigado; a Procuradoria-Geral da República (PGR) poderá denunciar, pedir novas diligências ou arquivar após analisar os relatórios policiais.
Medidas impostas ao pastor Silas Malafaia
- Busca e apreensão (celular apreendido no Galeão);
- Proibição de sair do país (passaporte cancelado);
- Proibição de contato com outros investigados nos processos relacionados à tentativa de golpe.
O tarifaço e outras medidas americanas viraram elemento central na apuração sobre um suposto plano para pressionar autoridades brasileiras, inclusive por meio de campanhas digitais e de narrativas que atrelavam interesses de política externa à situação processual de investigados no Brasil. A PF concluiu o indiciamento de Bolsonaro e Eduardo justamente em inquérito sobre atuação junto ao governo Trump para promover retaliações contra o Brasil e ministros do STF.
Após a abordagem, Malafaia afirmou: “Sou líder religioso, não sou bandido”, prometendo continuar se manifestando publicamente e alegando perseguição.
Fonte: Estadão e Folha de S.Paulo