PP e aliados articulam projeto que permite ao Congresso demitir diretores do BC, em meio a operação controversa do banco Master com o BRB
O Centrão abriu uma nova frente para expandir seu poder sobre instituições estratégicas do país: transformar o Banco Central (BC) em um órgão submetido à vontade política de deputados e senadores. Liderado pelo PP, o bloco apresentou uma ofensiva na Câmara para votar um projeto de 2021 que dá ao Congresso Nacional a prerrogativa de demitir diretores e até o presidente da autoridade monetária.
A proposta, ressuscitada em meio à análise do BC sobre a operação de compra do banco Master pelo BRB (Banco de Brasília), permitiria a exoneração mediante aprovação da maioria absoluta da Câmara. O Senado teria que referendar a decisão. O texto, contudo, não define critérios objetivos para caracterizar “atuação incompatível com os interesses nacionais”, deixando espaço aberto para perseguições políticas e barganhas de ocasião.
Economistas e ex-diretores do BC classificam a iniciativa como “loucura completa” e “coisa de republiqueta”, alertando que a aprovação significaria um retrocesso institucional inédito. “Nunca se viu pressão desse tipo sobre o Banco Central”, afirmam.
O líder do PP na Câmara, deputado Doutor Luizinho (RJ), e o vice-presidente da legenda, Cláudio Cajado (BA), estão recolhendo assinaturas para aprovar a urgência da pauta. MDB, União Brasil, PSB, PL e Republicanos também aderiram ao movimento — juntos, esses partidos somam cerca de 300 votos, mais do que o necessário para acelerar a tramitação.
Para críticos, a ofensiva é mais um capítulo na escalada do Centrão para manter privilégios e ampliar sua capacidade de interferir nas instituições. Depois de blindar parlamentares com propostas como a “PEC da impunidade”, agora o bloco mira o comando da política monetária nacional, transformando o BC em refém das raposas do Congresso.
Enquanto isso, a autoridade monetária enfrenta não só pressões políticas, mas também ataques cibernéticos a empresas financeiras sob sua supervisão. O risco, segundo especialistas, é de que a tentativa de ingerência coloque em xeque a credibilidade do país diante do mercado internacional e afaste investimentos.
Fonte: Folha de S.Paulo – Estadão e CNN Brasil