Do total de mais de 1,4 mil presos pelo 8 de Janeiro, apenas 141 seguem na cadeia; a maioria pegou penas extremamente brandas em relação ao crime cometido.
O discurso em defesa de uma anistia ampla aos envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023 ganhou força entre parlamentares bolsonaristas, mas os números levantados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) desmontam a narrativa de que milhares de pessoas ainda estão atrás das grades.
Dos mais de 1,4 mil presos em flagrante na ocasião, apenas 141 permanecem encarcerados e outros 44 estão em prisão domiciliar, entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro, monitorado por tornozeleira eletrônica.
A maior parte dos detidos já responde em liberdade, cumpriu penas menores ou foi beneficiada por acordos que livraram 552 pessoas de processo e eventual condenação. Os que ainda estão na prisão formam um grupo reduzido, composto principalmente por condenados por crimes graves, como tentativa de golpe de Estado, e por réus de alta relevância política, como o general Walter Braga Netto, ex-ministro de Bolsonaro.
Mesmo assim, a anistia continua a ser tratada por lideranças bolsonaristas como prioridade. Mais do que uma solução jurídica, o movimento funciona como bandeira eleitoral e serve para manter a base mobilizada, reforçar a narrativa de perseguição do STF e manter Jair Bolsonaro no centro do debate público.
Na prática, a aprovação de uma anistia teria pouco impacto sobre a realidade prisional, já que a grande maioria dos envolvidos sequer está mais presa. Seu efeito seria sobretudo simbólico, sinalizando condescendência com crimes contra a democracia e enfraquecendo o Judiciário diante de um episódio que marcou a maior ofensiva contra as instituições desde a redemocratização.
Por Marco Antônio Mourão
