Política externa de Trump baseada no “Make America Great Again” forçam empresas estadunidenses a reposicionar imagem no continente
A hostilidade crescente ao “americanismo” na Europa deixou de ser apenas uma questão de percepção cultural ou disputa ideológica: tornou-se um desafio econômico de grandes proporções para empresas dos Estados Unidos. A deterioração da imagem dos EUA, intensificada durante o governo Donald Trump, expôs marcas icônicas a um boicote velado que ameaça resultados financeiros em mercados historicamente estratégicos.
Gigantes corporativos têm respondido com um reposicionamento agressivo. O objetivo é simples: parecer menos americanos. Em campanhas publicitárias recentes, multinacionais destacam operações locais, cadeias de suprimento regionais e programas de responsabilidade social conectados às comunidades. A mensagem é clara: não somos apenas “americanos”, somos parte do tecido europeu.
O caso da Tesla simboliza o impacto direto desse movimento. O apoio de Elon Musk à candidatura de Trump em 2024 transformou o empresário em uma figura tóxica para parte significativa do público europeu. Como reflexo, a Tesla perdeu espaço no maior mercado de carros elétricos do continente: a Alemanha. A saída da lista dos dez mais vendidos não representa apenas queda de prestígio, mas uma perda de participação num setor altamente competitivo, dominado por marcas locais como Volkswagen, BMW e Mercedes.
A Dinamarca ilustra até onde esse sentimento pode ser institucionalizado. Desde a tentativa frustrada de Trump de comprar a Groenlândia, varejistas passaram a marcar produtos alternativos europeus com estrelas pretas, indicando-os como substitutos aos americanos. A estratégia já corroeu vendas de ícones culturais como a Coca-Cola, que, mesmo engarrafada pela Carlsberg, perdeu espaço para refrigerantes locais.
Economistas avaliam que esse processo pode gerar um custo bilionário em médio prazo para as corporações americanas. A Europa responde por uma fatia expressiva da receita de empresas de tecnologia, automotivas e de bens de consumo dos EUA. Uma retração de 5% a 10% em mercados-chave como Alemanha, França e Escandinávia significaria não apenas perdas financeiras, mas também ganho de espaço para concorrentes europeus e asiáticos.
A rejeição também toca o soft power dos EUA, antes sinônimo de inovação, modernidade e desejo aspiracional. Hoje, slogans ligados ao “American Way of Life” encontram resistência em públicos que associam essa ideia à arrogância política e a uma visão de mundo ultrapassada. Para especialistas em branding, isso exige das corporações americanas um exercício delicado: manter sua identidade global sem se tornar refém do estigma político de Washington.
O fenômeno lança uma questão estratégica: até que ponto a economia globalizada conseguirá separar a imagem de uma empresa da política de seu país de origem? Se a tendência europeia se consolidar, o impacto poderá extrapolar fronteiras e afetar mercados emergentes que tradicionalmente seguem a cultura de consumo americana.
Fonte: DW Deutsche Welle