Após censura do prefeito do PSD a Curadoria da Festa Litero Musical (Flim) resolveu cancelar e adiar um dos eventos literários mais importantes do interior paulista; seria este fim de semana
O cenário cultural de São José dos Campos foi abalado ontem, quarta-feira (17/09) com o adiamento da Festa Litero Musical (Flim), um dos eventos literários mais importantes do interior paulista. A decisão, anunciada pela organização, veio após uma onda de cancelamentos de artistas e curadores em protesto contra a censura imposta pela prefeitura, que vetou a participação da jornalista e escritora Milly Lacombe.
O veto à jornalista, determinado pelo prefeito de São José dos Campos, Anderson Farias (PSD), ocorreu após a repercussão de declarações de Milly em um podcast, nas quais ela criticava o conceito de “família tradicional”. A decisão gerou uma reação em cadeia, com a equipe de curadoria e ao menos 16 convidados, incluindo o renomado escritor Xico Sá, anunciando sua retirada do evento.
O caso ilustra a crescente submissão de políticos do PSD a grupos extremistas para evitar a perda de votos. A censura a Lacombe, motivada por uma interpretação distorcida de suas falas, foi um ato de silenciamento que se espalhou como um rastilho. Segundo a própria jornalista, as declarações foram manipuladas para “servir à fúria e ao ódio da extrema-direita”, resultando em ameaças diretas à sua segurança.
A censura à participação de Milly Lacombe foi considerada um “desrespeito” com o trabalho de meses da curadoria. “A censura à participação da Milly Lacombe e o desrespeito com o nosso trabalho é revoltante”, declarou Bianca Mantovani, uma das curadoras que abandonou a festa. A equipe de curadoria, em nota, comunicou sua saída e lamentou a decisão “arbitrária” que inviabilizou a continuidade do projeto.
Xico Sá, que faria a mesa de abertura com Lacombe, manifestou seu apoio e repúdio ao ocorrido: “Deixo aqui todo apoio e solidariedade à jornalista Milly Lacombe, censurada e silenciada politicamente (a pedido da extrema-direita) pela Prefeitura de São José dos Campos. Como convidado do mesmo evento cultural, comunico, em protesto, o cancelamento da minha participação”.
A atitude do prefeito de São José dos Campos, ao ceder à pressão e vetar a presença de uma artista por sua visão de mundo, não só promove a censura, mas também ataca o alicerce de qualquer evento cultural: a liberdade de expressão. O adiamento da Flim, portanto, não é apenas um problema de logística, mas a consequência direta de uma liderança política que sacrifica a cultura para agradar grupos extremistas, revelando uma lamentável submissão à chantagem ideológica. O futuro da festa e dos debates culturais na cidade permanece incerto, refém de um medo político que parece ter silenciado até mesmo as vozes mais fortes.







