Conflito civilizatório: pastor Ed René Kivitz e o embate entre o Estado religioso e a sociedade plural

Entre o projeto de poder religioso e a defesa da diversidade, o pastor Ed René Kivitz enxerga no Brasil contemporâneo não apenas uma disputa eleitoral, mas uma batalha de valores que definirá o tipo de civilização que emergirá das próximas décadas

O pastor batista Ed René Kivitz, uma das vozes mais influentes do chamado “protestantismo progressista” no Brasil, vem há anos alertando para o que chama de conflito civilizatório em curso, ele sustenta que “não se trata apenas de quem vence eleições, mas de que tipo de sociedade queremos construir”.

Segundo Kivitz, essa disputa opõe dois projetos de civilização: de um lado, um bloco conservador que busca restaurar uma ordem hierárquica, religiosa, moral e política, em que “brancos valem mais que pretos, homens mais que mulheres, heterossexuais mais que homossexuais, ricos mais que pobres”; de outro, uma visão de sociedade plural, inclusiva, que reconhece e protege minorias e suas crenças.

Em sua análise, o avanço das pautas religiosas sobre a política não é apenas sintoma de intolerância cultural, mas parte de um movimento organizado para recolocar a religião, em especial o cristianismo evangélico, no centro do poder estatal e da definição do que é “moral” ou “aceitável” em sociedade.

Teologia do domínio – o diagnóstico de Kivitz converge com pesquisas acadêmicas que investigam o que se convencionou chamar de nacionalismo cristão ou teologia do domínio. Essas correntes, originadas nos Estados Unidos e importadas para o Brasil a partir dos anos 1990, defendem que cristãos devem ocupar e controlar as principais “montanhas” da sociedade, governo, mídia, educação, economia, arte, família e religião, para estabelecer uma “nação sob Deus”.

O chamado Seven Mountains Mandate (mandato das sete montanhas), descrito em estudos de teologia política e ciência da religião, inspira boa parte das estratégias de setores evangélicos que atuam diretamente na política institucional. Para Kivitz, esse movimento é “a versão religiosa do autoritarismo contemporâneo”, uma tentativa de “sacralizar o poder e demonizar o adversário”.

“Quando o outro deixa de ser adversário e passa a ser inimigo, perde-se a humanidade. O passo seguinte é achar legítimo eliminá-lo, seja com palavras, seja com armas”, afirma o pastor,, criticando o avanço da cultura armamentista entre grupos religiosos.

Fé e Política -na prática, a teologia do domínio e o nacionalismo cristão encontram terreno fértil em contextos de insegurança econômica e moral. O discurso promete restaurar uma “ordem divina” ameaçada pela modernidade, pela diversidade sexual, pelo feminismo ou pelas religiões afro-brasileiras.

Para Kivitz, essa nostalgia por uma “nação cristã” idealizada é perigosa. “A fé não pode ser transformada em ideologia de dominação”, afirma. Ele insiste que o papel da religião deve ser o de oferecer sentido ético, comunitário e espiritual, não o de ditar políticas públicas ou decidir quem pertence à sociedade.

O pastor também critica o que chama de fundamentalismo político-religioso, que transforma a Bíblia em instrumento de legitimação de hierarquias. “O Evangelho não foi escrito para dar poder a ninguém. Foi escrito para libertar, servir, incluir”, argumenta.

Diversidade e inclusão – do outro lado do conflito, Kivitz identifica forças que defendem um modelo civilizatório baseado na inclusão e no respeito à diferença. Ele reconhece que essas forças não são homogêneas, incluem movimentos sociais, setores progressistas das igrejas e defensores da laicidade do Estado, mas compartilham o mesmo princípio: a pluralidade não é ameaça, é fundamento da convivência democrática.

Em sua visão, o desafio não é apenas resistir ao autoritarismo religioso, mas reconstruir uma ética pública baseada na solidariedade, na empatia e no diálogo.

A espiritualidade pode e deve dialogar com a política, desde que não pretenda dominar o Estado. “A laicidade não é inimiga da fé; é o que garante que todas as fés possam existir”,

As tensões internas – o discurso de Kivitz, contudo, enfrenta resistência dentro do próprio meio evangélico. Setores conservadores o acusam de “teologia liberal” e de “submeter a fé cristã à agenda progressista”. Já ele argumenta que a crítica vem justamente de quem “confunde fé com poder e Evangelho com ideologia”.

Há também tensões legítimas sobre até que ponto a fé pode inspirar ação pública sem ferir a laicidade. Para teólogos mais tradicionais, excluir a religião do debate social seria uma forma de silenciamento. Kivitz não discorda dessa presença, mas propõe outro paradigma: o da influência ética, e não da dominação política.

Um embate – a disputa, na leitura do pastor, não é apenas racional. Ela é movida por afetos — medo, ressentimento, sensação de perda de status — que encontram no discurso religioso um canal de expressão. “Quando o sujeito acredita que Deus está do seu lado, qualquer oposição se torna diabólica”, observa.

Essa dinâmica, segundo ele, explica o porquê de parte do eleitorado evangélico apoiar discursos autoritários ou excludentes: não se trata só de teologia, mas de identidade. “A política, hoje, virou religião. E a religião, política.”

Desafio do conflito civilizatório – compreender esse conflito exige ir além das pautas eleitorais e mapear as redes simbólicas, afetivas e institucionais que sustentam o poder religioso-político. A polarização não pode ser coberta apenas como embate de opiniões, mas como disputa por valores civilizatórios, entre uma sociedade que deseja purificar-se pela exclusão e outra que aposta na convivência pela diversidade.

Em um país onde religião e política se entrelaçam cada vez mais, seu alerta soa menos como manifesto e mais como diagnóstico: o Brasil do século XXI decidirá se quer ser uma nação de um só credo ou uma civilização capaz de abrigar todas as crenças.

Fonte: Meio – Pastor Ed René Kivitz fala sobre o perfil e as demandas dos evangélicos no Brasil

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