Após dois anos de governo, o presidente argentino enfrenta crescente desilusão popular a recuperação econômica prometida ainda não chega.
Quando Javier Milei assumiu a presidência da Argentina, em dezembro de 2023, ele prometeu um “remédio amargo” para curar décadas de descontrole fiscal e inflação crônica. O autoproclamado libertário alertou os argentinos de que o primeiro ano seria de sacrifícios com cortes, austeridade e dor, antes de uma esperada reconstrução.
Dois anos depois, o país vive uma realidade de contrastes: a inflação despencou e a pobreza diminuiu, mas o entusiasmo que o levou ao poder desaparece rapidamente.
A taxa de inflação, que chegara a três dígitos, foi reduzida de forma expressiva. Mas o alívio estatístico não se traduziu em prosperidade real. A economia estagnou, o desemprego aumentou e os salários do setor privado continuam praticamente congelados desde o início de 2023. Para muitos argentinos, o “remédio” de Milei ainda é apenas amargo e sem efeitos curativos.
A frustração com a economia sem brilho soma-se agora a denúncias de corrupção que atingem o núcleo duro do governo. A irmã e chefe de gabinete do presidente, Karina Milei, é acusada de envolvimento em irregularidades administrativas, acusações que ela nega.
O desgaste político foi ampliado pela desistência do principal candidato libertário à Câmara, José Luis Espert, após vir à tona sua ligação com um empresário investigado por tráfico de drogas.
O plano de Milei para combater a inflação incluiu manter o peso forte, reduzir tarifas de importação e flexibilizar controles cambiais, medidas que, embora tenham ajudado a conter os preços, também prejudicaram setores produtivos como o têxtil e o industrial. O turismo interno perdeu competitividade, e cortes em subsídios de energia e transporte corroeram a renda da população.
No início de 2025, o governo impôs aumentos salariais abaixo da inflação para servidores públicos e manteve o controle rígido sobre as aposentadorias. Ao mesmo tempo, a taxa de juros para pequenas e médias empresas ultrapassou 60%, sufocando a atividade produtiva.
O resultado é visível nas ruas. Pequenos empreendedores relatam queda brusca no consumo, Belén Aguilar, dona de uma loja de chocolates, anunciou o fechamento do negócio. As vendas caíram 50% este ano.
Mas a paciência do povo argentino parece que está acabando. A perda de apoio político e social, somada à desaceleração econômica e aos escândalos no entorno do presidente, coloca em dúvida a capacidade de Milei de manter-se como governante no futuro próximo. Javier Milei corre o risco de ser lembrado apenas como o veneno que paralisou a Argentina e não como a cura prometida para seu crônico mal econômico.
Fonte: Financial Times e Folha de S.Paulo