Opioide sintético altamente tóxico foi detectado em paciente intoxicado após uso de ecstasy; descoberta acende alerta sobre novas substâncias no país e reforça necessidade de políticas de redução de danos.
Uma substância 50 vezes mais potente que o fentanil considerado um dos opioides mais potentes do mundo foi identificada pela primeira vez no Brasil por pesquisadores da Unicamp. O composto, chamado N-pirrolidino protonitazeno, pertence à classe dos nitazenos, um grupo de opioides sintéticos altamente tóxicos e potencialmente letais.
A descoberta foi feita pelo Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox), da Universidade Estadual de Campinas, após um paciente dar entrada no Hospital de Clínicas (HC) em 19 de junho, apresentando sintomas graves de intoxicação, como sonolência intensa seguida de perda de consciência, após consumir ecstasy. O quadro exigiu o uso de naloxona, um antídoto específico para overdoses por opioides.
Após a confirmação laboratorial no fim de setembro, o CIATox notificou o Sistema de Alerta Rápido sobre drogas do Brasil (SAR) e a substância foi incluída na lista de uso proibido da Anvisa, por meio de uma resolução publicada em 29 de julho.
Segundo o coordenador do CIATox, José Luiz da Costa, o N-pirrolidino protonitazeno estava misturado ao ecstasy consumido pelo paciente o que eleva ainda mais os riscos, pois os usuários muitas vezes desconhecem os compostos presentes nas drogas que utilizam.
“Essas substâncias misturadas causam efeitos inesperados. As pessoas usam drogas combinadas com antidepressivos, por exemplo, e isso potencializa os efeitos. São os mesmos receptores do cérebro recebendo todos esses estímulos”, alerta o especialista.
O nitazeno identificado nunca foi testado em humanos, segundo Costa, e nem chegou a ser comercializado como fármaco devido à ausência de margem de segurança terapêutica.
Pesquisa nacional confirma desconhecimento sobre o que se consome
A descoberta do CIATox faz parte de uma ampla pesquisa conduzida em parceria com o Ministério da Justiça, entre 2022 e junho de 2025. Foram analisadas amostras de saliva de 1.631 usuários que frequentavam festas em diferentes regiões do Brasil.
Entre os resultados, destacam-se:
- 70,8% dos participantes relataram uso de substâncias ilícitas;
- A maioria desconhecia os compostos identificados nos exames;
- As drogas mais comuns foram MDMA (ecstasy), cocaína e metanfetamina.
A pesquisa também revelou a presença de novas substâncias psicoativas (NSP), como:
- MDEA (9,3%)
- Desclorocetamina (3,1%)
- Dipentilona (2,9%)
- Metilona (2,4%)
Para o pesquisador da Unicamp, a ausência de políticas públicas voltadas à redução de danos é um fator que agrava o risco de intoxicações e mortes. Ele defende o avanço de estratégias de testagem de substâncias em ambientes de uso, como festas e festivais.
“Conheço grupos que fazem testes colorimétricos, mas eles têm limitações. Funcionavam para drogas clássicas, mas não conseguem detectar essas substâncias novas”, explica Costa.
A descoberta do N-pirrolidino protonitazeno reforça a urgência de medidas preventivas e educativas diante do avanço de substâncias cada vez mais potentes e letais no mercado ilegal de drogas.
Fonte: g1
