Pesquisa mapeia sete ‘tribos’ políticas e aponta que a principal divisão no país é entre engajados e a “maioria silenciosa” de “Invisíveis”.
A intensa polarização que domina o debate público brasileiro, frequentemente retratada como uma batalha irreconciliável entre “esquerda” e “direita”, é, na realidade, um fenômeno de minorias vocalizadas que sequestra a agenda nacional. Essa é a principal conclusão da pesquisa “Os Invisíveis: O Elo Perdido da Política Brasileira”, publicada em 2023 pela ONG More in Common.
O estudo, que utilizou metodologia quanti-qualitativa robusta com uma amostra de 2.500 brasileiros, descontrói a visão simplista do país dividido ao meio, revelando uma complexidade psicográfica com sete “tribos” políticas.
O levantamento da More in Common divide o eleitorado em dois grandes blocos:
- Os Engajados (28% da população): inclui os Militantes da Esquerda (8%) e os Conservadores Nacionalistas (9%), grupos altamente ideologizados que sustentam o conflito ideológico visível nas redes e na mídia. A eles se somam os Liberais Ambiciosos (11%), um grupo pragmático em busca de uma “terceira via” de eficiência e mérito.
- O Centro Crítico e os Invisíveis (72% da população): este segmento majoritário e menos compreendido é o fiel da balança. Ele é composto por quatro tribos que demonstram uma relação de pragmatismo, desconfiança e até alienação com a política.
- Entre as tribos do centro estão os Descontentes Pragmáticos (18%), focados em resultados concretos como emprego e segurança, e os Esperançosos Religiosos (19%), cuja fé molda valores morais e a busca por bem-estar.
- O achado mais original da pesquisa é a identificação dos “Invisíveis” (19% da população), que se consolidam como o maior grupo individual do Brasil. Majoritariamente feminino, de baixa renda e escolaridade, este segmento se caracteriza pela alienação e fadiga política.
Os “Invisíveis” não se sentem representados pelo debate ideológico, que consideram agressivo e irrelevante para suas vidas. Sua prioridade é a sobrevivência do dia a dia, resultando na maior taxa de abstenção e voto nulo ou branco.
A pesquisa conclui que a principal divisão política no Brasil não é entre esquerda e direita, mas sim entre os engajados (cerca de 17% no núcleo ideológico) e a grande maioria desengajada e pragmática. Os 83% restantes possuem visões mais fluídas e buscam soluções para problemas cotidianos, como saúde, educação e custo de vida, ignorados pelo ruído da polarização.
A constatação serve de alerta para partidos e a imprensa: a estratégia de focar apenas no conflito entre os polos distorce a realidade e aprofunda o cinismo da população. Para revitalizar a democracia, é imperativo que os atores políticos desenvolvam uma agenda e uma linguagem que dialogue com as preocupações concretas do Centro Crítico e, em especial, dos “Invisíveis”.
Fontes: ONG MORE IN COMMON, Folha de S.Paulo e Estadão