Enquanto a população paulista enfrenta os desafios cotidianos do transporte, saúde e segurança, a cúpula do poder no estado paulista já tem sua prioridade definida para 2026
Enquanto a população paulista enfrenta os desafios cotidianos do transporte, saúde e segurança, a cúpula do poder no estado já tem sua prioridade definida para 2026: a reeleição.
A confirmação do MDB de que estará no palanque do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) não é uma surpresa estratégica, mas sim a ratificação de um cenário político onde projetos de longo prazo são sacrificados em nome da perpetuação no poder.
O anúncio, feito pelo presidente nacional do MDB, deputado Baleia Rossi, durante um painel em São Paulo, foi desprovido de qualquer verniz que pudesse disfarçar sua verdadeira essência: uma transação comercial disfarçada de aliança política.
A justificativa de Rossi foi cristalina em sua falta de substância programática. A decisão, segundo ele, é uma “retribuição” ao apoio “firme” de Tarcísio à campanha do prefeito Ricardo Nunes (MDB) em 2024. “Temos esse compromisso”, resumiu.
A análise crítica do episódio revela um modus operandi que há muito deixou de ser subentendido para se tornar a regra. A política, nesse contexto, não é mais a arena de debate de ideias e projetos para o desenvolvimento do estado, mas um balcão de negócios onde apoios são commodities a serem trocadas.
O bem comum, os anseios da sociedade e a discussão sobre os rumos de São Paulo são relegados a um plano secundário, quando não ignorados.
O apoio de Tarcísio a Nunes não foi um gesto de convergência ideológica ou de visão compartilhada para a cidade; foi um investimento. O retorno sobre esse investimento chegou antes mesmo da poeira das eleições municipais baixar.
O MDB, por sua vez, quita sua dívida política, garantindo sua fatia de influência em um eventual novo governo. A sociedade, espectadora passiva desse acordo, é a verdadeira pagante do custo dessa transação, que raramente se traduz em benefícios concretos para sua vida.
A fala de Baleia Rossi sobre “discutir 2026 em 2026” soa como um eufemismo para a paralisia governamental. Se as energias da classe política estão concentradas em montar palanques com um ano de antecedência, que espaço sobra para a complexa gestão do estado?
A crítica reside justamente nisso: a eleição deixa de ser um evento pontual no calendário democrático para se tornar uma campanha permanente, um pano de fundo que corrói a capacidade de governar.
A antecipação das alianças cria um ambiente de instabilidade e de governança curtoprazista. Decisões impopulares, porém necessárias, são adiadas. Oposições são tratadas como inimigas a serem aniquiladas, e não como partes legítimas do debate. O foco do governante e dos partidos aliados migra da administração pública para a manutenção da popularidade, um bem cada vez mais volátil.
Enquanto isso, os problemas reais de São Paulo da crise habitacional à violência, da precariedade do atendiemnto na Saúde aos preços e números exorbitantes de pedágios nas estradas paulistas, passando pelo transporte coletivo das grandes cidades do esatdo que são verdadeiros caos de mobilidade, que aguardam por soluções que parecem distantes da pauta prioritária de um poder que já está de olho nas urnas de 2026.
O palanque está montado. Resta saber se, para a sociedade, sobrará algo mais do que o papel de plateia em um espetáculo que se repete, vazio de sentido e cheio de consequências.
Por Marco Antônio Mourão
